quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

PARTIDOS POLÍTICOS E DEPUTADOS

As linhas que a seguir apresento, foram escritas como modesto amante e defensor da Democracia, indignado com os maus comportamentos de alguns Srs. Deputados, expostos pela comunicação social, que permitem aos cépticos da acção dos políticos e aos inimigos da Democracia dizer “que são todos os mesmos”, “que não vale a apena votar”, que “precisamos é dum homem forte, com punho de ferro para meter isto na ordem”. A Assembleia da República é um pilar fundamental da nossa Democracia. E tal como os pilares na construção civil não podem abrir brechas no betão nem deixar que o aço das armaduras seja corroído, sob pena de colapso, os Srs. Deputados não podem abrir brechas no comportamento nem deixar-se corroer, sob pena de descrédito da Instituição E tal como na construção civil em que os pilares devem ser feitos de materiais de qualidade certificada sob pena de serem inúteis por não aguentarem a superestructura que integram, também se os Srs. Deputados não actuarem com probidade intelectual e devoção ao bem público, o resultado da sua acção pode não só ser inútil como prejudicial. Manter a classificação da Democracia como o melhor sistema de governo conhecido é uma luta de todos os dias, principalmente para os responsáveis políticos, eleitos pelo povo, ou escolhidos pelos eleitos, quer pelo seu comportamento pessoal inatacável, quer pela sua abertura para ouvir os cidadãos e dar-lhes razão quando a têm ou não dar no caso contrário, explicando porquê, para evitar acusações de comportamento arbitrário ou não-democrático. E nestas responsabilidades pela manutenção do bom nome da Democracia, a comunicação social também uma responsabilidade grande. Deve de facto denunciar os casos impróprios ou criminosos de que que tenha conhecimento mas certificando-se previamente de que são verdadeiros e que não correspondem a ataques sem razão ou maledicências de fontes que se escondem trás do anonimato para fins pessoais. Uma calúnia numa sociedade de cépticos torna-se quase numa verdade e pode arruinar uma reputação sem que haja verdadeiramente causa para isso. O nome honrado é a maior fortuna que um ser humano pode ter, nunca é demais afirmá-lo. Nas eleições para a Assembleia da República, são os partidos políticos que escolhem os deputados a propor aos eleitores. E estes vão votar no partido da sua preferência, em geral desconhecendo a maioria dos candidatos. Em Portugal, como não há círculos eleitorais uninominais, não existe uma relação directa eleitor/deputado. Há apenas uma relação eleitor/partido. Nestas circunstâncias os partidos têm a obrigação de selecionar os seus candidatos com todo o rigor possível, afastando o risco de propor pessoas que possam vir a pôr interesses pessoais à frente do interesse colectivo. Voltando à analogia inicial com a construção civil, enquanto que o engenheiro projectista pode incluir nos seus cálculos um coeficiente de segurança ( acrescentado mais betão ou mais aço aos pilares ) para garantir qualquer que qualquer imprevisto não vá enfraquecer a resistência da construção, os partidos não podem incluir mais deputados nas suas listas para eventualmente compensar falhas de um ou outro ! . É claro que a qualidade do trabalho desenvolvido pelos deputados não é uniforme, pois as pessoas não têm todas a mesma capacidade, mas a qualidade do comportamento no campo da ética é obrigatório que seja uniforme e ao mais alto nível A manutenção do regime democrático e os cidadãos assim o exigem ! Lisboa, 26 de Dezembro de 2018 NOTA : Publicado também no blog "velhossaoostrapos.com"

sábado, 22 de dezembro de 2018

GREVES e GREVES

Grande número de greves, originadas principalmente pela acção de sindicatos de trabalhadores do Estado estão em curso ou anunciadas. Seria interessante perceber porque razão no tempo do governo PSD+CDS+troika, em que os impostos foram colossalmente aumentados ( para repetir a expressão do ministro das finanças de então ), os ordenados, as pensões e as contribuições sociais foram reduzidos, as taxas moderadoras do SNS aumentadas, os atingidos ficaram pouco mais que quietos. A grande excepção foi a revolta social , vencedora, provocada pela tentativa de reduzir a TSU para as empresas. E porque razão, agora que a quase totalidade dos malefícios causados pelo anterior governo foram eliminados ou estão em curso de o ser, é que as pessoas se manifestam ? Não sou sociólogo para poder fazer uma abordagem científica ao estudo do problema, mas atrevo-me a apontar algumas possíveis razões : - as pessoas atingidas ficaram tão esmagadas psicologicamente que perderam o ânimo para reagir ; - as quebras nos vencimentos dissuadiam as pessoas de fazer greves para evitar perderem ainda mais rendimentos - a convicção criada de que não valia lutar contra um governo com maioria no Parlamento e sem simpatia pelos trabalhadores ( alguns dirão que os trabalhadores aceitaram patrioticamente os sacrifícios para salvar o País; duvido, pois todos tinham a clara certeza de que os sacrifícios foram para os que menos podiam e que os que mais podiam continuaram a fazer as suas vidas sem restrições * ) ; - hoje em dia como a situação geral da economia e os rendimentos melhoraram, as pessoas já se sentem com forças, e com fundos, para fazer greves ; - e como a situação económico-financeira melhorou, pensam que o Estado tem obrigação de ser mais generoso com os seus funcionários – mesmo que isso signifique aumento do défice público. Um Governo de Esquerda e ainda para mais a menos de um ano de novas eleições teria todo o gosto e interesse em satisfazer os desejos dos seus trabalhadores, se não fosse perigoso fazê-lo De facto o objectivo de atingir um défice público de 0 % para que o Estado deixe de pedir dinheiro emprestado, afastando o perigo duma nova troika a condicionar a nossa vida, é fundamental. Os juros dos empréstimos externos são actualmente muito baixos fruto principalmente do Banco Central Europeu comprar os empréstimos das dívidas soberanas, situação que tem um fim à vista em 2019. Depois disso, ninguém consegue prever qual será a reacção dos emprestadores, se será calma, nervosa ou especulativa. Por muitas teorias económicas que os especialistas tenham desenvolvido, também ainda não é possível prever quando surgirá nova “crise”. O que se sabe é no sistema capitalista actual as crises alternam com intervalos de bonança ; e se agora estamos em era de bonança, uma crise virá a seguir. Portanto o Governo actual tem procurado compensar as perdas de rendimento individuais resultantes da acção do governo anterior, sem pôr em risco a estabilidade financeira cujo descalabro poderia dar origem à eleição duma maioria de direita nas próximas eleições o que provavelmente originaria novamente corte nos ordenados e pensões. Nenhum trabalhador quer isso, certamente. A aparente simpatia com que os partidos da direita estão a encarar as reivindicações dos funcionários públicas, na minha opinião não passa de hipocrisia política Voltando às greves actuais não podemos deixar de verificar que nalgumas delas a dificuldade em chegar a acordo com o Governo deve-se muito a motivações políticas. Sindicatos há que, embora sabendo as razões do Governo ( acima resumidas ) continuam com exigências que à partida sabem não poder ser satisfeitas. Esta intransigência é do verdadeiro interessa dos trabalhadores ? Dos utentes dos serviços públicos não é de certeza, digamos mesmo que certas classes profissionais, necessárias ao funcionamento do SNS correm o risco de passar a ser consideradas um inimigo público de quem, p. ex. , vê adiada uma cirurgia há muito ansiada e não tem alternativa – como sempre e injustamente, são os que menos podem os mais prejudicados. Por isso dizemos que há Greves e Greves, com o subentendido que se pode tirar da leitura deste texto. (*) Como termo de comparação ao que poderia ter sido na altura do governo PSD+CDS+troika, é interessante ler no semanário Expresso de 22-12-2018 a solução apresentada pelo Ministro das Finanças da Roménia para remediar a crise do seu País : novas taxas para os bancos, para as empresas de energia e de telecomunicações. Tal decisão causou quebras acentuadas nos valores bolsistas, o que certamente alarma os interesses financeiros. Mas qual é a solução mais justa : empobrecer os cidadãos comuns, como foi feito em Portugal, ou reduzir a riqueza dos accionistas, como vai ser feito na Roménia ? Lisboa, 22 de Dezembro de 2018

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

SNS - HUMANIDADE E CONTABILIDADE

O Governo aprovou a sua proposta de alteração da Lei de Bases da Saúde. A proposta do Governo é bastante mais magra que a dos Srs. António Arnaut e João Semedo dada à estampa este ano. De acordo com as informações vindas a lume, a referida proposta é também diferente da que foi apresentada ao Governo pelo grupo de trabalho dirigido pela Sr.ª Maria de Belém Roseira . Neste pequeno texto não vou fazer comparações entre uma proposta e outra, vou apenas referir dois pontos, na linha das preocupações que expressei num escrito publicado no meu blog “tempodeluta.blogspot.com” em 18 de Setembro de 2018. 1) Relações com instituições privadas 1.1) BASE 5 – Responsabilidade do Estado Tal como está escrito, o nº1 desta Base permite com facilidade e sem razões de força que um Governo estabeleça acordos para prestação de serviços de saúde com entidades privados, sociais e trabalhadores independentes. Para evitar esta facilidade deveria ser acrescentada a expressão “em caso de absoluta necessidade”. Aliás o texto do nº 1 da BASE 21 está de acordo com a minha observação. É fundamental evitar ambiguidades para não permitir abusos de quem tenha preferências pelo privado, em detrimento do público, na prestação de cuidados de saúde aos cidadãos. 1.1) BASE 18 – Organização e Funcionamento do SNS O nº3 desta Base vai permitir que a gestão dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde possa ser, duma forma supletiva e temporária, assegurada por contrato com entidades dos sectores privado ou social. Mas porquê permitir tal possibilidade na legislação ? Poderão faltar gestores públicos para tal trabalho ? Os gestores privados ou sociais iriam trabalhar gratuitamente e assim o Estado pouparia o valor de alguns ordenados ? Os gestores privados são melhores que os públicos ? Nenhuma destas possibilidades é de considerar ! O Estado deve assegurar sempre com gestores públicos a gestão de estabeleci- mentos públicos sob pena de ser um Estado inepto. E os cidadãos não podem aceitar Governos ineptos! 2) BASE 22 - Seguros de saúde Na relação entre companhia seguradora de saúde e o seu segurado, há um elemento mais forte, a seguradora, e um elemento mais fraco, o segurado. Logicamente o dever do Estado é garantir que o elemento mais fraco não seja prejudicado pela força do elemento mais forte . Portanto deve haver uma garantia na lei de que a seguradora tendo aceite fazer uma intervenção dentro do âmbito do seguro contratado leve a intervenção até ao fim, sem custos extra para o segurado, mesmo que motivos não previstos pela seguradora obriguem a ultrapassar o tecto ( também chamado plafond ) do seguro contratado. Aliás, como previsto na Base XLV do texto de Arnaut e Semedo. A saúde duma pessoa não pode ser tratada da mesma maneira que o valor dum automóvel quando ocorre um sinistro, ou duma mobília quando ocorre um incêndio. Para concluir, não nos devemos esquecer que os princípios de actuação do SNS são humanistas enquanto que os das entidades privadas são princípios contabilistas. Lisboa, 21 de Dezembro de 2018

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O ORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2019 E A DÍVIDA PÚBLICA

A época da apresentação do OE é o tempo em que se tornam, mais veementes as sugestões, os pedidos, as exigências para que pessoas, instituições, serviços sejam atendidos na distribuição de verbas do erário público no ano seguinte. As verbas atribuídas no OE 2019 são na generalidade superiores às do ano anterior mas, mesmo assim, consideradas por muitos insuficientes. Se tudo o que é pedido pelos pretendentes fosse considerado, a valor do OE teria sem dúvida uma enormíssima subida ! E como se conseguiria dinheiro para tal feito ? Subindo os impostos ? Nem pensar, dirão todos. Contraindo mais empréstimos ? Sim, dirão muitos, Deixando de pagar os juros dos empréstimos contraídos ? Sim, dirão alguns. O ligeiro, ligeiríssimo, problema com o pedir mais dinheiro emprestado é que… terá de ser pago ! Como a nossa dívida soberana anda à volta dos 250 mil milhões de Euros e vai continuar a subir enquanto houver défice nas contas públicas, sobrecarrega-la ainda mais parece-me insensatez ! Demasiada insensatez mesmo com juros baixos, a não ser que qualquer futuro prémio Nobel da Economia venha a demonstrar que a partir duma dada altura as dividas dos estados prescreverão. Enquanto tal demonstração não fôr feita e aceite, enquanto quisermos viver em sociedade com os outros estados, os juros e as dívidas, ainda que possam ser minorados ou parcialmente perdoados, terão de continuara a ser pagos. Por isso, repito o que já disse muitas vezes, a não ser em casos muitos excepcionais, as contas públicas devem apresentar défice ZER0 ou superavit. Partindo desta ideia , a distribuição das verbas do OE pelas pessoas ( salários, pensões, prestações sociais ), pelas empresas (incentivos, redução de encargos ), pelas serviços públicos e pelas forças armadas e de segurança ( melhoria nos equipamentos, mais pessoal ), nas infra-estruturas ( mais investimento ) é uma questão política, a acordar entre o Governo e o Parlamento. MAS SUBIR O DÉFICE PROPOSTO, NÃO Lisboa, 16 de Novembro de 2019

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O CAPITALISMO NÃO É UM HUMANISMO

O que vou escrever a seguir não passa duma série de truísmos, mas como estamos em época de discussão do Orçamento de Estado e os mesmas intervenientes apresentam as mesmas ideias, ou seja a Direita a querer mais benesses para as empresas, a Esquerda do PS a querer mais rendimentos para as pessoas e o PS a fazer o equilíbrio, acho que também devo repetir o que penso e que é do conhecimento geral. O Humanismo como movimento espiritual apareceu no final da Idade Média, no século XIV, tendo como objectivo dedicar uma nova atenção às formas de arte, literatura e filosofia da Antiguidade Clássica. Com esta corrente, o Homem passou a ser o centro de todos os interesses. Ao longo dos séculos e até hoje, o Humanismo tomou várias formas : cristão, renascentista, positivista, marxista, existencialista, etc. No “Dicionário Enciclopédico de Língua Portuguesa”, Publicações Alfa de 1992, edição de Selecções do Reader’s Digest, vem escrito o que a seguir transcrevo : Fil. O termo ( Humanismo ) aplica-se actualmente a qualquer doutrina que considere o homem como instância superior e tenha como meta o seu bem-estar e felicidade terrenos. No mesmo dicionário a definição de capitalismo é a seguinte: Capitalismo é um sistema económico caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção e pela existência de um mercado onde se compram e vendem mercadorias , sobretudo força de trabalho. O objectivo das empresas capitalistas é a maximização do lucro resultante das suas actividades, a aquisição ilimitada de dinheiro, o crescimento constante. Nas empresas capitalistas co-existem dois tipos de pessoas : os seus proprietários, ou seja os detentores do capital, e os que nelas trabalham. Como o trabalho custa dinheiro à empresa, é óbvio que quanto menor for o seu custo, maior será o lucro. ( Convem notar que existem dois tipos de trabalhadores : os que por delegação dos proprietário organizam o trabalho e dirigem os outros empregados e os outros ; os primeiros em geral são regiamente pagos e por vezes têm atitudes para com os restantes que os próprios capitalistas não teriam – defeitos de formação ). Embora haja muitos economistas e sociólogos que dizem que trabalhadores bem tratados e felizes são mais produtivos, e também empresas que concordem e ponham tais ideias em prática é óbvio que o capitalismo não é um Humanismo. Porem, devo dizer em abono da verdade que na minha vida profissional conheci alguns capitalistas que eram humanistas, na medida em que tinham genuína preocupação com os seu empregados. Infelizmente não foram muitos. Já, no campo da política, o socialismo democrático , a 8 social-democracia europeia são sistemas Humanistas. ( No pós 2ª Guerra Mundial alguns partidos cristão-democratas também foram Humanistas ) Lisboa, 2 de Novembro de 2018

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

AUMENTOS SALARIAIS

Com vista à elaboração do Orçamento de Estado para 2019, o Governo, os partidos apoiantes e sindicatos discutem o valor dos aumentos para o funcionalismo público. Não vou dar opinião sobre o valor dos aumentos, quem deve ser ou não ser aumentado, sobre a viabilidade dos aumentos em termos orçamentais, vou simplesmente apreciar modelos de aumento. As duas hipóteses mais simples são : i) uma percentagem igual para todos ; ii) uma quantia fixa igual para todos. Na 1ª hipótese, todos ganham em relação à inflação prevista, mas dependendo da percentagem do aumento e do valor da inflação, poderão melhorar ou piorar o seu nível de vida. Porem, a abertura do leque salarial aumenta. Na 2º hipótese, todos ganham em relação à inflação, mas dependendo do valor do aumento e do valor da inflação, alguns poderão melhorar e outros poderão piorar o seu nível de vida, Porem a abertura do leque salarial mantem-se e os vencimentos mais baixos são favorecidos Para melhor compreensão vejamos exemplos numéricos, considerando o seguinte Ordenado mais baixo : 600 € Ordenado mais alto : 6000 € Abertura do leque salarial : 6000 – 600 = 5400 € Inflação a considerar : 1 % 1ª Exemplo Aumento geral de 0,9 % Toda a gente perde. Abertura do leque salarial ;6054 – 605,4 = 5448,6 ou seja aumentou 2ª Exemplo Aumento geral de1,0 % Toda a gente fica na mesma Abertura do leque salarial ;6060 – 606 = 5454 € ou seja aumentou mais que no 1º exemplo 3º Exemplo Aumento geral superior a 1% Todos ganham Abertura do leque salarial aumentou mais que nos casos anteriores 4º Exemplo Aumento geral de 5 € Todos perdem, os vencimentos mais baixos menos que os mais altos. A abertura do leque salarial mantem-se 5ª Exemplo Aumento geral de 10 € O que auferem até 1000€ ganham ; os de 1000 € não perdem nem ganham ; e os que ganham acima de 1000€ perdem A abertura do leque salarial mantem-se 6º Exemplo Aumento geral de 60 € Todos os que ganham abaixo de 6000€ melhoram ; e os que ganham 6000 € não perdem nem ganham A abertura do leque salarial mantem-se 7ª Exemplo Aumento geral superior a 60 € Todos ganham, os de ordenados baixos mais que os de ordenados altos. A abertura do leque salarial mantem-se Para alem deste tipo de alternativas, outras existem tais como aumentar só os vencimentos até um certo nível, aumentar só os vencimentos mais altos (com a justificação de que os dirigentes na função pública ganham pouco em comparação com os seus semelhantes nas actividades privadas), etc. Portanto, a decisão que resultar da discussão vai depender de . - verbas disponíveis - vontade de favorecer só as pessoas de mais baixos salários - vontade de favorecer toda a gente - consideração da importância da abertura do leque salarial, para não aumentar a diferença entre os que ganham mais e os que ganham menos Para mim, a melhor solução seria um aumento igual para todos, em que precisamente todos melhorassem, ou pelo menos não piorassem Lisboa, 5 de Outubro de 2018

terça-feira, 2 de outubro de 2018

SOBRE O CHAMADO CASO SERRALVES

Todos sabemos que a moral e os costumes dependem dos valores das sociedades e dentro de cada sociedade evoluem ao longo dos tempos. Hoje em dia o que é aceitável numa sociedade primitiva, pode não ser aceitável numa sociedade dita ocidental. A aceitação do que acontecia na civilização romana foi totalmente modificada quando o cristianismo impôs os seus padrões de comportamento. E mesmo dentro do cristianismo a evolução tem sido grande. Tanto no campo da moral sexual como no campo da justiça. Hoje em dia, por exemplo, na nossa sociedade é impensável assistirmos a cruéis execuções públicas como eram os autos de fé. Analogamente aquilo que é aconselhável ou desaconselhável aos não-adultos, para efeitos de evitar exemplos nocivos à sua formação também tem variado ao longo dos tempos. Por isso, na nossa sociedade existe uma classificação etária dos espectáculos públicos e mesmos os operadores de TV fazem recomendações a este respeito Passando ao chamado caso de Serralves. Não vi a exposição do fotógrafo americano presente no museu, mas tenho acompanhado as inúmeras notícias, os comentários, etc. sobre uma eventual censura por parte da Administração da Fundação a algumas fotografias consideradas de arte . Esta eventual censura causou a auto demissão do Director Artístico da instituição, que assim sem dúvida se publicitou largamente. Note-se que não estou a insinuar que fosse essa intenção, estou apenas a anotar um facto. Das notícias concluí que a eventual censura foi a colocação num sítio reservado a adultas de fotos de sado-masoquismo o e outras também de cariz sexual explícito. Tem justificação a reserva ? Penso que sim, pois embora diga respeito aos pais ou tutores decidir o que os seus educandos podem ver, o grosso da exposição está aberto a menores não acompanhados e portanto acho justificável que um funcionário da casa ( não sei se é assim que se passa ) impeça a visita ao dito local reservado de menores não acompanhados. Não sei se o demissionário Director Artístico é também uma autoridade em educação de jovens para poder dar opinião sobre a possibilidade de estes verem as tais fotos. Mas se desejava realmente que os jovens as pudessem ver, o que teria de fazer não era demitir-se, mas sim pôr uma providência cautelar em tribunal (?), Desta forma poderia ter conseguido algum resultado, da outra não conseguiu! Foi prestado um mau serviço a Serralves Vou prosseguir o assunto, fazendo algumas perguntas ( que alguns considerarão provocantes mas que traduzem uma certa perplexidade da minha parte ), a partir da hipótese de, num determinado local, estar em exposição uma série de fotos de sexo sado-masoquista explícito, sem indicação dos autores: 1.Será fácil, difícil, ou sequer possível para os artistas, os críticos, os entendidos, que observarem a série de fotos determinar quais são as artísticas e as pornográficas ? 2. Haveria divisão de opiniões ou consenso se as fotos fossem apreciadas individualmente, sendo as opiniões expressas sem discussão ? 3. E se o assunto fosse discutido, chegariam a consenso ? 4. Se no final a classificação duma foto como pornográfica levasse a que o autor, diplomado pela Academia de Fotografia XYZ, dissesse : “eu sou um artista e portanto a minha foto é arte “, o autor teria razão ? 5. Ou seja, podem os autores determinar se as suas obras são arte ? Será que algum dos meus Amigos tem resposta para estas perguntas ? Lisboa, 2 de Outubro de 2018

terça-feira, 18 de setembro de 2018

A NOVA LEI DE BASES DO SERVIÇO NACIONAL DE SAUDE

O Serviço Nacional de Saúde ( a maior conquista social resultante da Revolução de 25 de Abril de 1974, logo seguida da instrução escolar obrigatória para todos ) é um assunto que está constantemente no cerne das discussões públicas: Pelos partidos políticos que estão na oposição para atacar o Governo, pelos partidos que apoiam o Governo para defender o SNS e para lhe serem introduzidas melhorias, pelos profissionais da saúde para obter melhores remunerações ou melhores condições de trabalho, pelos jornalistas porque sabem que é um tema de audiência garantida, pelos opositores do SNS para tentar desacreditá-lo, e também por algumas pessoas que se interessam genuinamente pela saúde dos portugueses. Entrando mais uma vez na discussão, como apoiante incondicional do SNS tendencionalmente gratuito para TODA a população, vou referir-me a três documentos importantes, um porque esteve em discussão pública até recentemente - a proposta de alteração da Lei de Bases da Saúde emanada dum grupo de trabalho ( GT ) nomeado pelo Governo -, outro porque representa o pensamento estratégico do PSD, o partido com mais deputados no Parlamento, relativamente ao SNS e outro ainda porque representa o pensamento de António Arnaut, o criador em 1979 do SNS ( tal como vem expresso no livro “Salvar o SNS” escrito em colaboração com o Dr. João Semedo ). No documento divulgado pelo PSD, o tema a que é dado grande ênfase é o da constituição de parcerias publico-privadas (PPP) para gerir os hospitais públicos, e numa segunda fase as unidades de cuidados primários. O argumento, segundo dizem tirado dos relatórios do Tribunal de Contas, é que gestão PPP dos hospitais de Braga e Cascais sai mais barato aos contribuintes portugueses. Isto apesar das despesas da gestão incluírem o lucro para os privados que, sem dúvida prestimosamente, gerem os hospitais. Não disponho de elementos para poder contrariar ou não os números do PPD- PSD. Mas teoricamente não parece nada lógico : então sendo os vencimentos dos profissionais de saúde que lá trabalham iguais num e noutro caso, os ordenados dos administradores privados superiores aos dos públicos, havendo que considerar o lucro do trabalho de gestão, quer corra bem quer corra mal, para iguais serviços prestados, os privados conseguem ser mais baratos ? Isto só será possível se as gestões públicas forem terrivelmente ineficientes ! O que não é aceitável! O Estado tem obrigação de colocar à frente dos hospitais públicos funcionários que sejam capazes de organizar o trabalho de forma a tirar o melhor rendimento dos profissionais e dos equipamentos e reduzir o desperdício ao mínimo, a favor dum tratamento o melhor possível dos utentes, claro. Senão qualquer dia aparece um partido a querer privatizar também o governo do país !!! O caminho da generalização das PPP na saúde é o caminho para a privatização do SNS e portanto o número 9 da base da Base XX da proposta do GT acima referido NÃO deverá entrar na nova Lei de Bases. A gestão dos hospitais públicos deve ser pública, como previsto no livro de AA e JS e ao contrário da Lei 48/90 do tempo do 1ª Ministro Sr. Cavaco Silva O ponto seguinte é um apontamento sobre o funcionamento dos seguros de saúde . A proposta do GT diz na Base XXX, número 2 o seguinte, e cito : 2.A celebração de contratos de seguro deve ser precedida da prestação, pela entidade seguradora, de informação, clara e inteligível, quanto às condições do seguro, âmbito e limites da cobertura, incluindo informação expressa quanto à eventual interrupção ou descontinuidade de tratamentos caso sejam alcançados os limites contratualmente estabelecidos, de forma a permitir uma decisão acertada. “ A proposta do livro ” Salvar o SNS “ diz o seguinte, e transcrevo “ 2- Os prestadores de cuidados de saúde são responsáveis pela continuação e conclusão de qualquer tratamento que tenham aceite iniciar sob a cobertura se seguro de saúde, não podendo o mesmo ser interrompido ou descontinuado em virtude da cobertura da respetiva apólice ser insuficiente para assegurar o pagamento da despesa realizada ou prevista A 1ª alternativa protege as seguradas ( elemento mais forte ) , a 2ª alternativa protege os segurados ( o elemento mais fraco ) e portanto na minha maneira de ver a segunda deve ser adoptada. Uma Base nova que aparece na proposta do GT é a XXXVI que diz respeito aos “Direitos e deveres dos profissionais de saúde” Na parte dos Direitos aparece a alínea c) que estipula, e cito, c) Contribuir para a gestão rigorosa, eficaz e eficiente dos recursos existentes Na minha opinião, se isto constitui um direito, é sobretudo um DEVER ! Pode lá admitir-se que um profissional não tenha o DEVER de contribuir para a gestão rigorosa, eficaz e eficiente dos recursos disponíveis ? A alínea deve pois deixar a lista dos direitos e engrossar a lista dos deveres. Para responsabilizar os que se esquecem deste princípio básico duma actividade profissional, esta alteração é fundamental. Dum direito pode-se prescindir, dum dever não ! Ainda sobre os médicos, na proposta do GT deixa de figurar uma possibilidade que a lei do tempo do Sr. Cavaco Silva permitia o que transcrevo a seguir : Base XXX 32 . 6 – A lei pode prever que os médicos da carreira hospitalar sejam autorizados a assistir, nos hospitais, os seus doentes privados, em termos regulamentar. De facto não faz sentido que havendo listas de espera para cirurgias nos hospitais públicos, doentes em regime privado dos respectivos médicos possam ser atendidos, em regime privado naqueles. E possivelmente passando à frente de doentes do regime público à espera há mais tempo ! Finalmente, vou abordar o assunto dos medicamentos. Na Lei nº 56/79, a primeira lei sobre o SNS, o Art. 14 dizia-nos que os utentes do SNS tinham direito às seguintes prestações, e cito : a) Cuidados de promoção e vigilância da saúde e de prevenção da doença; b) Cuidados médicos de clínica geral e de especialidade; c) Cuidados de enfermagem; d) Internamento hospitalar; e) transporte de doentes quando medicamente indicado; f) Elementos complementares de diagnóstico e tratamentos especializados; g) Suplementos alimentares dietéticos; h) Medicamentos e produtos medicamentosos ; i)Próteses, ortóteses e outros aparelhos complementares terapêuticos; j) Apoio social em articulação com os serviços de segurança social. Esta listagem desapareceu na Lei 48/90 que ainda está em vigor ( embora os utentes tenham continuado a ter aqueles benefícios ) e não aparece também , nas propostas do livro de AA e JS nem na do GT. Possivelmente devemos pensar que o “direito aos cuidados de saúde dos cidadãos” engloba tudo aquilo mas na verdade não está explicitado. Para certas coisas mais vale a mais do que a menos … E aproveito para perguntar, porque razão o Estado, o principal prestador de cuidados de saúde sem fins lucrativos, não há de dispor de unidades produtoras de medicamentos. O custo com medicamentos constitui uma importante fatia dos gastos com cuidados de saúde e portanto seria interessante estudar se unidades fabris do Estado seriam competitivas no preço final com as dos privados. Aliás um bom laboratório público apetrechado para produzir fármacos em caso de crise deveria estar sempre disponível. O Laboratório Militar tem capacidade para isso ? Se não tem , deveria ter !. É uma questão de segurança nacional. Lisboa, 18 de Setembro de 2018

domingo, 16 de setembro de 2018

A DISCUSSÃO SOBRE A RECONDUÇÃO OU NÃO DA PGR JOANA MARQUES VIDAL

Começou há meses nos meios de comunicação social a discussão sobre a recondução ou não da actual Procuradora Geral da República, cujo mandato termina em Outubro, para novo período de 6 anos. De acordo com a legislação nem uma coisa nem outra são obrigatórias : a decisão depende do 1º Ministro e do Presidente da República, ouvidos os partidos políticos. Os partidos da direita têm-se manifestado activamente a favor, o PCP contra, o PS e BE aguardam. Os grandes argumentos a favor têm que ver com a sua alegada coragem de não hesitar em instaurar e fazer andar processos contra antigos governantes ( Srs. José Sócrates, Armando Vara, etc, ) , ministros em funções na altura ( Sr. Miguel Macedo ) pessoas consideradas muito importantes por terem muito dinheiro ( Sr. Ricardo Salgado, etc ) ou por representarem entidades quase míticas, como o Sr. Paulo Gonçalves ao tempo advogado do Benfica E em consequência, a maioria dos observadores considera que a se Senhora não se deixou intimidar pela importância política ou financeira ou social dos averiguados e fez andar as coisas. deve continuar pois oferece garantias Outros, como a Srª Ana Gomes ( no programa da SIC Notícias do dia 9 de Setembro de 2018 )considera que aquilo é verdade, mas que outros assuntos também importantes ficaram pelo caminho, como o caso dos 2 submarinos para a Armada Portuguesa que teve condenações na Alemanha por corrupção e em Portugal, foi arquivado, o caso apagão fiscal, etc. Aqui faço um parêntesis para lastimar que pessoas que tão alto subiram nas suas hierarquias, estejam a ser investigadas por crimes de corrupção. Se se confirmarem as acusações, onde está o exemplo que deviam dar aos seus concidadãos? E também é triste verificar que se considera um acto coragem o cumprimento dos deveres de PGR e que possivelmente não haverá muita gente capaz de o fazer. Não abona muito sobre o que os portugueses pensam de si próprios No capítulo de pontos negativos no mandato da actual PGR, não posso deixar de referir que não conseguiu evitar clamorosas e repetidas fugas de informação ao segredo de justiça permitindo assim julgamentos populares, julgamentos de carácter na praça pública Penso que que Srª Procuradora deveria ser substituída por uma nova personalidade, não porque não tivesse desempenhado duma forma mais positiva que negativa o seu mandato, mas porque 6 anos no num cargo directivo daquela responsabilidade é o tempo razoável – até porque certamente é muito desgastante Pois, mas quem é que V. lá punha ? – perguntarão.. Não conheço as pessoas do Ministério Público para dar uma resposta concreta, mas quero crer que existem pessoas adequadas Por exemplo uma pessoa com o perfil da Procuradora Distrital de Lisboa Maria José Morgado não andaria longe do ideal. Acredito que nunca pacturaria com corrupções políticas, financeiras ou futebolísticas… Lisboa, 15 de Setembro de 2018

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A ÉPOCA DOS COMBOIOS

Quando eu era criança e brincava com os rapazes da minha geração no Parque Mira Torres, certas brincadeiras tinham épocas : havia a época do pião, a época do berlinde, a época do hóquei ( que embora fosse em campo nós imaginávamos que era em patins pois Portugal nesses tempos era campeão do mundo crónico ), a época do lenço. Outras não tinham época como o futebol que podia acontecer em qualquer altura. Pois para a oposição ao Governo chegou há pouco a época dos comboios. Os comboios andam atrasados, os comboios são suprimidos, os comboios não têm ar condicionado os comboios estão velhos, os comboios são poucos, etc. Estas deficiências com maior ou menor grau (muitas vezes dramatizadas por interessantes reporters ) são a consequência natural de falta de investimento e de insuficiente manutenção ao longo de décadas. Na empresa privada em que trabalhei, o investimento era pelo menos igual à depreciação do equipamento, para não haver perda de património. Será esta a regra para os equipamentos públicos? Não sei, mas suspeito que não. A minimização da ferrovia começou com uma resolução dum governo do Sr. Cavaco Silva, que foi do conhecimento geral e que um pequeno livro do Sr. António Alves editado em 2009 sob o título de “O Caminho de Ferro em Portugal” traduz da seguinte forma:. “Em 1988, o Conselho de Ministros, presidido por Aníbal Cavaco Silva, aprova o “Plano de Modernização dos Caminhos de Ferro 1988-94”. Na sequência deste plano, que apostava exclusivamente nos sistemas ferroviários das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e também nos principais eixos de longo curso, sobretudo no eixo Braga – Faro, cerca de 770 km de via-férrea foram definitivamente encerrados. A norte, esta política de fecho de linhas foi particularmente devastadora”. Daí em diante as políticas dos vários governos foram sempre muito erráticas, tendo até passado pela ilusão do TGV, em várias versões – ( que seria um ótimo negócio para os fabricantes europeus de equipamento ferroviário) até que o presente Governo assentou num plano para a ferrovia ( um resumo do Ferrovia 2020 pode ser visto em anexo). Portanto existe um plano em desenvolvimento e as deficiências notadas pelos utentes não poderão ser resolvidas dum dia para outro. E não adianta aos partidos da oposição tentar dramatizar o caso porque este tipo de problemas só se resolve com tempo, trabalho e investimento. A campanha dos partidos da direita sobre os caminhos de ferro destina-se a tentar demonstrar que o Estado não consegue resolver os problemas e que a privatização seria a solução. Não acredito que serviços públicos essenciais e onde não há concorrência tragam benefícios para os cidadãos., se forem privatizados. Há logo à partida uma diferença essencial : um serviço público do Estado é para servir os utentes ; um serviço público privatizado, sem concorrência é para servir os investidores e , eventualmente, os utentes. Os transportes públicos pesados tipo CP, Metros, Carris necessitam de grandes investimentos praticamente constantes e, para darem lucro, ou preço dos bilhetes é excessivamente caro ou Estado tem que entrar com grandes compensações Aliás, considerando as infelizes experiências recentes, que ganharam os portugueses com a privatização da EDP, da REN, da ANA, da Fidelidade ? Nada . Que perderam ? A saída de dividendos para o estrangeiro. E com a privatização dos CTT , melhoraram os serviços prestados ? Não. Concluindo : os serviços públicos essenciais que vivem em regime de monopólio devem permanecer na mão dos portugueses, geridos pelo Estado Lisboa, 30 de Agosto de 2018 ANEXO

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A SAUDAÇÃO DE CENTRNO À GRÉCIA


 

A propósito da saída da Grécia do 3º programa de assistência da UE, Mário Centeno na sua qualidade de presidente do Eurogrupo, dirigiu, através dum vídeo, palavras de circunstância aos gregos.

Essa palavras que no meu entender, são apenas de felicitações e de encorajamento para o futuro, sem deixar de lembrar os sacrifícios feitos, desencadearam uma onda de críticas irrazoáveis. Desde logo do professor bon vivant Yanis Varoufakis ( ex ministro das finanças do 1º governo do Sr. Tsipras ) , seguindo-se os partidos à esquerda do PS, os partidos à direita e até o deputado PS, Sr. João Galamba.

O povo grego, como aliás aconteceu à generalidade dos portugueses, mas não aos que mais tinham, sofreu ferozes imposições restritivas dos representantes dos seus credores e teve de se desfazer para as mãos de privados, provavelmente estrangeiros, dos  empreendimentos e empresas públicas rentáveis.. Não creio que um homem de esquerda como o 1º Ministro Tsipras tivesse algum prazer nisso ( outros em circunstâncias semelhantes tiveram ) mas entre não aceder às exigências dos credores ( sair do euro, voltar a um dracma certamente sem valor internacional , arriscar-se a não ter quem emprestasse dinheiro, enfrentar uma miséria muito maior) e negociar com a UE e o FMI, o governo grego escolheu a segunda hipótese, o menor dos males .

Agora , tal como Portugal, e desde que cumpra o acordado com a EU, o governo grego pode por em prática um plano de recuperação da economia que favoreça em primeiro lugar os gregos que mais precisam e em segundo lugar todo o país.

Terá liberdade de escolher uma política que gradualmente ponha termo à austeridade e que demonstre que havia alternativas. É importante, como Portugal tem feito, demonstrar que existem alternativas às exigências da EU e do FMI. Porquê ? Porque as políticas económicas destas entidades têm tido um cariz neo-liberal, têm obrigado à  privatização para mãos estrangeiras das empresas nacionais rentáveis, têm obrigado a reduzir as defesas dos trabalhadores perante os empregadores, têm sacrificado sobretudo a população de mais baixos rendimentos.

Os governos verdadeiramente sociais-democratas da UE têm obrigação de lutar por uma economia de carácter social ( uma economia em que as pessoas sejam realmente mais importantes que o dinheiro ) em todos os órgãos da EU onde tenham representantes. Será um trabalho contínuo e duro, pois as nações ( como as pessoas ) mais ricas não querem abrir mão dos seus privilégios, mas para que a UE tenha significado ( e eu sou um europeísta ) é preciso menos egoísmo e mais solidariedade.

Quanto à lição a tirar dos casos português e grego para mim é fundamentalmente esta : não pedir dinheiro emprestado aos bancos, a não ser para situações pontuais bem definidas, não criar dívidas soberanas, não ter défices orçamentais. Em suma não estar dependente do dinheiro de terceiros.

Finalmente, sobre as críticas ao texto do Sr. Mário Centeno são todas compreensíveis, excepto uma :
As  do Sr. Varoufakis são naturais pois ele fracassou em relação ao que pretendia fazer ( e em geral não perdoamos aos outros os nossos fracassos); as dos partidos à esquerda do PS são naturais porque ou não aceitam sequer a existência da EU ou abominam as respectivas políticas económicas ; as críticas dos partidos à direita do PS também são naturais pois tudo o que Governo e o seu Ministro das Finanças fazem está mal feito. Só não percebi a critica do Sr. João Galamba mas talvez um dia o mesmo senhor explique melhor.

Para mim o que disse o Sr. Mário Centeno não contradiz aquilo em que acredito e que resumidamente aqui deixei escrito. Por isso não tenho reparos a fazer às suas palavras

 

Lisboa, 22 de Agosto de 2018

 

segunda-feira, 20 de agosto de 2018


NO RESCALDO DAS NOTÍCIAS SOBRE O INCÊNDIO DE MONCHIQUE

 
Na semana que se seguiu ao fim do incêndio na serra de Monchique, pulularam nos meios de comunicação social as opiniões, críticas, conselhos sobre o assunto.    Lentes, doutores, drs., professores, técnicos teóricos e práticos, directores de jornais, jornalistas, economistas, ignorantes, populares, etc. deram  a sua opinião, em geral criticando a actuação das chefias, próximas e distantes até ao mais alto nível, dos combatentes do fogo  e também obviamente o governo. Houve alguns dos críticos que vestiram a pele de moralistas, atacando as palavras do 1º Ministro por este manifestar satisfação por num incêndio daquela dimensão não ter havido mortos. Como se pode manifestar satisfação, perguntam os críticos, se embora não tendo havido mortos, arderam 28,500 há, ficaram destruídas 50 casas, sendo 12 de 1ª habitação e houve 41 feridos ( 22 bombeiros ) ? Responderei eu, duma forma simplista: para quem preza mais a vida humana que os bens materiais, o combate ao incêndio correu bem ;  para quem preza mais os bens materiais que a vida humana, o combate ao incêndio correu mal
                                                                                                                                                                                        Houve também queixas de que os militares da GNR encarregados de retirar pessoas dos locais de perigo foram algumas vezes bruscos. As pessoas queriam ficar a defender as suas casas e não as deixaram! Com as emoções à flor da pele por causa dos acontecimentos é natural que os proprietários medissem mal o perigo que iriam correr e pensassem que conseguiriam dominar as circunstâncias . Porem os militares tinham as suas ordens e não poderiam deixar ficar ninguém para trás. Na aflição do momento, talvez se tenham esquecido de “pedir por favor”, mas acho que cumpriram as suas obrigações e que as populações devem estar agradecidas
Não tenho conhecimentos para avaliar se dos pontos de vista táctico e estratégico o ataque ao fogo foi bem ao mal conduzido. Pelo leitura dos jornais não faltaram meios ( segundo alguns até houve meios a mais ). Também não ouvi referências que as recomendações da Comissão Técnica Independente não tivessem sido seguidas. Nem sequer, pasmem, li comentários sobre dificuldades nas comunicações . Será que o SIRESP funcionou bem ? Para não ser notícia, certamente que correspondeu às necessidades !                                                                          
Por outro lado, os proprietários das matas cumpriram as obrigações de prevenção que deviam ? Os donos das casas que arderam tinham seguro contra incêndio ?                                                              

Para ter resposta a estas questões vou esperar por novo relatório da CTI sobre o combate ao grande incêndio de Monchique.

Mais uma reflexão : será que os criticaram o modo como foi conduzido o combate teriam feito melhor se estivessem no comando ? É praticamente impossível saber-se , mas que quase todos os portugueses são “treinadores de bancada” não tenho dúvida.
 
Lisboa, 20 de Agosto de 2018
 

domingo, 19 de agosto de 2018

PESQUISA DE PETRÓLEO AO LARGO DE ALJEZUR


 

Em 1954, o  professor de Química Geral do IST, Prof. Eng. Francisco de Magalhães Ilharco, já falecido, ensinava que era preciso procurar fontes alternativas de energia  ( eólica, hídrica, das ondas, das marés, solar ) pois o petróleo bruto não duraria sempre. Hoje sabe-se que a abundância de petróleo é muito maior do que se supunha anteriormente, mas que outros motivos ligados às condições de vida no nosso planeta tornam necessário utilizar cada vez mais as energias alternativas em detrimento do outrora chamado “ouro negro” . Porem, no estado actual da tecnologia, o petróleo é indispensável como matéria prima para a indústria petroquímica, responsável pela existência de miríades de objectos e instrumentos de utilização corrente.

Vem esta introdução a propósito da proibição feita por um tribunal de Loulé, no seguimento duma providência cautelar interposta por  activistas ambientais, de ser iniciada a pesquisa de petróleo no mar, ao largo de Aljezur. Um dos argumentos dos activistas é o de que não foi feito um estudo de impacto ambiental. O Governo considera importante saber se existe petróleo em condições de exploração para termos esse trunfo na mão em caso de necessidade e que será feito o estudo de impacto ambiental se houver petróleo e antes dum eventual início de exploração.

Eu penso que a posição do Governo é sensata porque :

i) Apesar dos avanços no campo das energias renováveis e da tecnologia, o petróleo vais ser necessário durante muitos anos

ii) Com a confusão que reina no mundo, não será difícil imaginar circunstâncias em que a escassez de fornecimento ao nosso país aconteça ou que o preço atinja valores incomportáveis. Tendo fontes locais de abastecimento, aqueles perigos são minimizados.

iii) Com o desenvolvimento das tecnologias de prospecção e os cuidados ambientais obrigatórios, os perigos de acidente são mínimos

iv) Existe um contrato assinado pelo anterior governo com o consórcio Galp+ENI para a dita exploração, o qual para ser resolvido traria certamente  custos ao erário público.

Há diferença entre saber que existe petróleo e explora-lo. Avançar com uma eventual exploração, na minha opinião, só em caso de emergência ou se um estudo ambiental rigoroso mostrar que não existe perigo para o ambiente, nem sequer perigo para o turismo na costa vicentina ou algarvia.

No que respeita a metas ambientais, com ou sem petróleo, Portugal tem obrigação de cumprir o que foi acordado em Paris e com os parceiros da União Europeia

Como é sabido, o Reino Unido e a Noruega têm prospecção e exploração de petróleo ao largo das suas costas e não me consta que sejam países para os quais a defesa do ambiente não interessa. Isto para concluir que existem hoje em dia tecnologias  bastante seguras.

Certamente os nossos ambientalistas, apesar das suas preocupações vão continuar a andar em carros movidos a gasolina ou gasóleo, a viajar de avião a jacto durante mais alguns anos…

 

Lisboa, 18 de Agosto de 2018

 

domingo, 8 de julho de 2018

AS ALTERAÇÕES ÀS LEIS LABORAIS


AS ALTERAÇÕES ÀS LEIS LABORAIS

 

Os factos : Em 30/5/2018, na Concertação Social, os representantes do patronato e da central sindical UGT aprovaram algumas alterações ao Código do Trabalho, mediante uma proposta do Governo. A central sindical CGTP não aprovou, ficando de fora do acordo. As propostas de alteração terão de ser aprovadas pela Assembleia da República para terem força de lei.
O objectivo primordial da proposta foi alegadamente o combate a `precaridade no emprego.

Todos estamos de acordo que, nas relações patrões- trabalhadores, principalmente quando o desemprego é elevado como se tem verificado em Portugal desde a crise económica de 2008, a balança pende para o lado do patronato. Esta circunstância foi acentuada pela revisão do Código de Trabalho ( CT ) feita pelo governo PSD+CDS durante o tempo da troika. A revisão abriu ainda mais as portas aos contratos a prazo, ou seja à precaridade no emprego e à desregulação dos horários de trabalho ( com a ampliação da possibilidade de criar bancos de horas ). Sabemos que todas as decisões que tomamos para o futuro da nossa vida são um risco, mas há circunstâncias em que o risco é maior que noutras. No caso duma pessoa jovem ter um emprego a prazo, como pode tomar a decisão de constituir família, ou adquirir uma casa para habitação própria sem risco demasiado ? Colateralmente, esta dificuldade também terá reflexos no índice de natalidade, o qual todos os partidos e instituições dizem que pretendem aumentar

Portanto é necessário acentuar e reforçar a protecção dos trabalhadores contra eventuais abusos,

Lendo o que foi proposto e acordado, o tema que salta decididamente à vista é o alargamento do período experimental dos contratos sem termo certo de trabalhadores à procura do 1º emprego ou em situação de desemprego de longa duração, de 90 para 180 dias.
Esta alteração anula a alínea b) do Nº 4 do Art. 140 ª .
Percebe-se que a ideia seja a de conseguir que os jovens obtenham o seu primeiro emprego sem ser com um contrato a prazo. O que é sem dúvida uma ideia positiva
Porem, esta disposição permitirá aos empregadores pouco escrupulosos substituir contratos a prazo de 6 meses, com compensação no final, por períodos experimentais, findos os quais o patrão declara que o trabalhador não serve – e venha outro - sem mais encargos. Esta alteração, a ser posta em prática, deverá ser cuidadosamente monitorizada durante o tempo suficiente para detectar se terá sido usada com má fé por parte de empregadores
(Segundo o nº2 do Art. 344º do Código de Trabalho, o trabalhador tem direito a receber 18 dias de salário no termo dum contrato a prazo se aquele for decidido pelo empregador)  

As possibilidades dum empregador contratar a prazo estão bem definidas  ( alíneas a) a h) do nº 1 do Art. 140º do CT ) e portanto se todos os empregadores fossem cumpridores da legislação, ou a autoridade de fiscalização das condições de trabalho tivesse meios suficientes para actuar, ou ainda se houvesse um programa de informática para cruzar dados, não haveria razões para contratos de trabalho a termo sem razão legal. Na inexistência das condições acima referidas, a redução da duração máxima dos contratos a termo de 3 para 2 anos, o estabelecimento de que a duração total das renovações não pode exceder a do período inicial do contrato e a contribuição adicional para a Segurança Social em caso de abuso de contratos a prazo, são medidas positivas, Aliás a detecção de abusos traduzidos em rotatividade excessiva deveria desencadear de imediato a averiguação se os contratos a prazo tinham justificação aceitável ou não. Em caso de serem descobertas infracções ao CT, as penalizações previstas deveriam ser aplicadas com rigor e vigor . A contribuição adicional para a segurança social por rotatividade excessiva no máximo de 2% não parece desencorajador de abusos. Repetindo: a contratação a termo de trabalhadores está dentro das possibilidades dadas pelo CT ou não está. Se não está, a punição deve ser desencorajadora !

A redução da duração dos contratos temporários a termo incerto de 6 para 4 anos também parece uma medida destinada a evitar abusos de precaridade.

A possibilidade de criação de bancos de horas já vinha da Lei 7/2009 ( Art. 208º do CT ) promulgada durante um governo PS, mas unicamente em função duma regulamentação colectiva.  A Lei 23/2012  ( do tempo do governo PSD+CDS+troika ), que modificou a redacção do CT, introduziu os Art. 208ºA e 208ºB que permitiam os bancos de horas individual e grupal. O banco de horas individual, sendo da iniciativa da empresa e tendo apenas como interlocutores o empregador e o trabalhador poderia levar a circunstâncias em que este, contrafeito, teria de aceitar a proposta daquele. Por isso a eliminação da sua possibilidade vem proteger o trabalhador e é de aplaudir. Quanto ao banco de horas grupal, o mecanismo proposto impõe que o mesmo seja aprovado pelo menos por 65% dos trabalhadores e por voto secreto, devidamente acompanhado . E o limite máximo de horas semanais baixa de 60 para 50 e anuais e 200 para 150. Mantem- se, presume-se a possibilidade de compensar aa horas a mais feitas num dado período por redução do horário de trabalho noutro período, aumento do tempo férias ou pagamento em dinheiro. Penso que também neste caso os trabalhadores ficarão mais protegidos contra abusos.
A regulamentação ou contratação colectiva é um processo de negociação que sem dúvida dá mais força aos trabalhadores face aos empregadores e contribui para a harmonização de condições de trabalho num determinado sector de actividade. Por isso é evidente que o CT deve favorecer o estabelecimento de contratações colectivas e evitar o seu abandono por motivos não razoáveis. A proposta acordada na Concertação Social prevê medidas nesse sentido.
Assim no Art. 500º que enuncia as condições em que uma convenção colectiva pode ser denunciada, é introduzida uma alínea que obriga a fundamentar porque motivos de ordem económica, estructural ou de desajustamento da convenção é feita a denúncia e fixa um prazo para a comunicação ao ministério. Seguidamente no Art.501º sobre” Sobrevigência e Caducidade”, no número 8, são introduzidas as condições de parentalidade e segurança e saúde no trabalho no rol dos efeitos que são mantidos até decisão arbitral ou entrada em vigor de nova convenção. No entanto, não foi revertida a redução do prazo de sobrevigência duma convenção em caso de denúncia, proposta de revisão ou última publicação integral da convenção de 5 para 3 anos feita pela Lei 55/2014 (PSD+CDS ) em relação à Lei 7/2009 (PS) .Esta não-reversão tem merecido críticas dos sindicatos afectos à CGTP por aumentar o perigo de situações em que os trabalhadores não estejam apoiados por uma convenção colectiva. Por outro lado, a inclusão da possibilidade de recurso a Tribunal Arbitral  em tempo útil por parte dos trabalhadores   para interromper o período de sobrevigência duma convenção é uma medida que permite o prosseguimento das negociações para alteração de convenção existente ou acordo duma nova .

Em resumo : A tradução do que foi acordado na Concertação Social em alterações ao CT poderá trazer vantagens no combate à precaridade, mas aquelas deverão ser seguidas com muita atenção pela Autoridade do Trabalho.

 

Lisboa, 7 de Julho de 2018

 

 

 

sábado, 7 de julho de 2018


A CONTESTAÇÃO AO GOVERNO DE PROFESSORES, MÉDICOS E ENFERMEIROS



Nas últimas semanas a luta contra o Governo do PS dos professores da Escola Pública, através dos seus sindicatos e dos médicos e enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde, através das suas ordens, tem-se intensificado duma forma rara ou mesmo nunca vista.

Isto apesar de, no caso dos professores o Governo estar disposto a continuar as negociações para minorar os prejuízos causados por anteriores governos, e no caso dos profissionais de saúde ter finalmente decidido pôr em prática o retorno às 35 horas de trabalho por semana e de ter contratado mais centenas ou milhares de profissionais para o SNS

Neste texto não vou comentar a razão ou sem-razão das contestações : quero apenas exprimir a minha perplexidade pelo que se passou anteriormente e pelo que se passa agora



De facto, primeiro no tempo do Governo Sócrates, depois duma forma ampliada, no tempo do Governo PSD+CDS, aquelas classes de servidores do Estado foram atacadas nos seus direitos como nunca tinham sido, nem nos tempos do Estado dito Novo, com Salazar ou Marcelo Caetano !              (Jamais aqueles chefes de governo se atreveram a baixar os salários dos funcionários públicos mesmo durante as crises da 2ª Guerra Mundial, de 1939 a 1945 e da Guerra Colonial, de 1961 a 1974 ). 
E no entanto as formas de luta adoptadas pelos sindicatos face às decisões do governo Passos Coelho de aumentar as horas de trabalho semanais e de reduzir ordenados foram tão fracas que quase não me lembro delas

E agora com o Governo António Costa  que está pouco a pouco mas determinadamente a repor direitos é que a luta atinge proporções enormíssimas !

Por que será ?

Será Síndrome de Estocolmo ?

Será puro afecto pelo anterior governo e mero desafecto pelo actual ?

Ou será por qualquer tipo de raciocínio que escapa ao cidadão comum e que só sociólogos, psicólogos ou outros estudiosos da mente humana conseguem explicar ?

Seria interessante saber-se



Lisboa, 7 de Julho de 2017






terça-feira, 12 de junho de 2018

AS REIVINDICAÇÕES DOS PROFESSORES



PARTE 1 – CENÁRIO EM QUE SE VERIFICAM

Com a melhoria da situação económica portuguesa ( da situação económica, note-se, pois a situação financeira, enquanto houver défice nas contas públicas continua a piorar devido ao aumento do valor absoluto da dívida ), os justos desejos de melhoria das condições de vida dos portuguesas ( condições essas que foram esborrachadas durante o período do governo PSD+CDS+ troika,  com a excepção das das classes mais possidentes ) vieram ao de cima. As exigências sobre o Governo, para conseguir essas melhorias, por parte dos grupos sociais, dos grupos profissionais, dos partidos de esquerda e até, pasme-se, das oposições multiplicam-se.
Listando algumas de que lembro, sem fazer pesquisas :

1. Contagem de tempo de serviço, revisão de carreiras, melhoria de estatuto:
·         Professores dos ensinos primário e secundário
·         Médicos
·         Enfermeiros
·         Magistrados e funcionários judiciais
·         Pessoal da Polícia de Segurança Pública
·         Militares da GNR
·         Militares das Forças Armadas
·         Pessoal do SEF
·         Na generalidade, o restante pessoal dos serviços do Estado

2. Investimentos e pessoal para o SNS
·         Mais médicos de família
·         Mais médicos especialistas
·         Mais enfermeiros
·         Mais auxiliares
·         Novos hospitais
·         Novas alas hospitalares e dependências
·         Novos centros de saúde
·         Mais camas para cuidados continuados e paliativos
·         Modernização e ampliação dos meios de diagnóstico
·         Grandes melhorias no INEM

3. Investimentos e pessoal para a Escola Pública
·         Mais professores para ter aulas com menos alunos
·         Mais estabelecimentos de pré-primário
·         Mais atenção às necessidades educativas especiais
·         Mais auxiliares para as escolas
·         Mais e melhor desporto escolar

4. Ensino superior e Investigação
·         Mais residências para estudantes universitários
·         Mais investigadores para mais projectos

5. Forças Armadas
·         Completar os quadros de pessoal previstos
·         Substituir e modernizar o material
6. Serviços de Segurança
·         Mais pessoal para a ASAE
·         Mais pessoal para o SEF
·         Mais pessoal para a PSP
·         Mais pessoal para os serviços prisionais
·         Mais pessoal para a GNR
·         Mais pessoal para a protecção do ambiente e floresta
7. Transportes ferroviários
·         Modernizar as linhas existentes
·         Mais pessoal
·         Mais comboios para os Metros

8. Transportes rodoviários
·         Mais autocarros urbanos
·         Reparação das estradas nacionais em particular da N125
·         MENOS impostos nos combustíveis

9. Florestas
·         Limpeza das matas dos pequenos proprietários a cargo do Governo
·         Mais meios de combate aos incêndios
10. Cultura
·         Mais dinheiro para as companhias de teatro independentes
·         Mais pessoal para os Museus

A pergunta que desde logo se põe é : há dinheiro para isto tudo ?
E vem logo outra pergunta : e há possibilidade de baixar os impostos como alguns, senão todos, querem ?
Fazer o orçamento de todas estes desejos e necessidades compete ao Governo ; os interessados em cada um destes campos limitam-se ( por vezes, nem sempre ) a fazer as contas para o que lhes interessa.
Sendo as disponibilidades financeiras limitadas e, na minha opinião, não convindo aumentar o défice orçamental para não corrermos o risco de voltarmos à situação desesperada do tempo da troika, compete ao Governo com espírito social e de justiça decidir. Uma coisa é quase certa : nem todos os desejos vão ser satisfeitos

Lisboa, 11 de Junho de 2018


PARTE 2 – UMA SOLUÇÃO POSSÍVEL

O semanário “Expresso” na sua edição de 9 de Junho de 2018, na página 8 sob o título “Crise à Esquerda” (?) traz uma súmula muito bem apresentada do que representa em termos de dinheiro as proposta do Governo e dos Sindicatos  para descongelar as progressões na carreira dos professores. Com a devida vénia, transcrevo alguns dos dados :
1.      O efeito do descongelamento a partir de 2018 implica uma despesa a mais em 2018 de 30 milh € ; em 2019 de 57 milh € ; e a partir de 2023 de 419 milh €.
2.      Com a proposta inicial dos Sindicatos de contar com o descongelamento de 9 anos e 4 meses, a despesa extra seria em 2018 de 30 milh.€   ; em 2019 de 111 milh.€ ; e a partir de 2023 de 933 milh. €
3.      Com a contra-proposta do Governo  de contar  com o descongelamento de 2 anos e 9 meses, a despesa extra seria em 2018 também de 30 milh.; em 2023 de  419+ 113 = 532 milh. €
A diferença entre a proposta do Governo e a dos Sindicatos é pois de 401 milh. € , os quais acrescidos da TSU originam 635 milh. € - ou seja os 600 milh.€ que o 1º Ministro citou no debate parlamentar acrescentado que “não havia dinheiro”.
É compreensível a posição do Governo de não querer tomar um compromisso que posteriormente poderá não estar em condições de cumprir - sem contrair mais dívida, ou sem desfalcar outros sectores importantes da actividade, ou sem aumentar os impostos ou sem voltar aos cortes.
Mas os Sindicatos dos professores exigem não só justiça, que a justiça não paga contas, mas aumentos salariais resultantes do descongelamento das progressões na carreira. Para “facilitar a vida ao Executivo” os Sindicatos até estão dispostos a fasear  a consideração dos anos em que os professores não progrediram, até ao total de 9 anos e 4 meses
Então porque não propor ao Governo a aceitação da sua contra-proposta , mas sem considerar o assunto encerrado e com a promessa vinculativa de o assunto voltar a ser discutido após a formação de  Governo resultante das eleições legislativas de 2019 ?

Lisboa, 12 de Junho de 2018