EM LOUVOR DA ASMECL
No dia 21 de
Abril de 2017, durante uma sessão solene comemorativa do 145º aniversário da ASMECL- Associação de Socorros
Mútuos de Empregados no Comércio de Lisboa, fui homenageado pelos meus 75 de
associado. Comigo foram homenageados 37 sócios com 50 anos de antiguidade e 7
colaboradores com longos anos de actividade ao serviço da instituição.
É verdade,
fez 75 anos que o meu Pai me inscreveu como Sócio Familiar. Em boa hora o fez,
pois de todas as vezes que recorri aos serviços clínicos da ASMECL fui sempre
muito bem tratado e com bons resultados.
Algumas
recordações
1. Consulta
de pediatria na infância . Tenho a
vaga lembrança de o médico ter sido o Dr. Marques Pinto e a consulta ter tido
lugar no corpo principal do Palácio de S. Cristóvão, mas certezas não tenho
2.
Tratamento dum dente.
Já no tempo
do liceu, o Passos Manuel ficava e fica relativamente perto, lembro-me de ter
tido necessidade de tratar um dente que estava furado e me doía. O médico achou
que valia a pena obturá-lo e preparou-o (desvitalização do nervo penso eu agora
) ao longo de várias sessões de trabalho. No dia marcado para o finalmente, lá
me sentei na cadeira ( o que me causava sempre um certo receio ), o médico
preparou o material para a obturação, ou seja, fundiu um pouco de chumbo num
pequeno cadinho e depois despejou a massa fundida no buraco a tapar. Era o que
na altura se chamava « chumbar um dente » ! Não me doeu nada e o
chumbo permaneceu no seu lugar penso que duas décadas. Depois caíu e o dentista
a que recorri fez a obturação com um material moderno.
3. Ortopedia :
reparação do fémur esquerdo.
Num dos primeiros meses de 1976 fui atropelado,
ao atravessar uma rua sem olhar para os lados, em Xabregas. Com o embate, fui
projectado para o ar, bati com a cabeça no para-brisas do carro atropelante e
caí no chão. Antes de desmaiar ainda tive tempo para dizer o número de telefone
de minha casa e pedir para darem a notícia com cuidado à minha Mulher. Acordei
no hospital de S. José, já limpo do sangue que tinha brotado da cabeça e com a
perna esquerda imobilizada. Tenho a vaga lembrança de que a Miló já estava à
minha beira, embora permanecesse numa enfermaria. Não me lembro quanto tempo
passou até que a Miló me disse que me ia levar para a Associação. Não me opus,
nem certamente estava em condições de o fazer, e ela depois explicou-me que o
médico de S. José lhe tinha dito que eu precisava de ser operado para unir as
duas partes do fémur partido, que seria necessário um elemento metálico ( um
« ferrinho » ) para fazer a ligação e que o hospital não tinha de
momento nenhum disponível ! Que teria de esperar que um “ferrinho” fosse
retirado dum paciente que já não precisasse dele para me poder ser aplicado.
Que não havia previsão de tempo para o efeito e que, se ela tivesse alguma
clínica para onde me levar, seria o mais acertado. E assim fui para a
Associação.
Uma vez aí, fui entregue aos cuidados do Dr.
Carlos Ribeiro – um grande médico ortopedista e operador a quem presto mais uma
vez a minha homenagem, e que morreu prematuramente num desastre de automóvel –
que me operou numa terça-feira. Depois da operação, ele disse à Miló que eu ia ter dores fortes durante 24 h e que
receitava umas pastilhas para aliviar. De facto, passado o efeito da anestesia
tive dores tremendas que, como ele previu, duraram quase exactamente 24h. Com a
ajuda do « ferrinho » e dum « ferro », um perfil metálico
que o médico colocou paralelamente ao fémur para dar resistência, ao fim de
algumas semanas pude voltar ao trabalho. O “ferro” foi retirado passado um ano
por meio duma intervenção simples. O “ferrinho” ainda cá está
O resultado
da operação foi óptimo pois passado pouco tempo pude recomeçar a fazer desporto
( coisa que ainda faço ) e ao longo dos anos nunca me doeu nada, nem senti as
mudanças de temperatura ou humidade
E sabem quanto
me custaram os serviços prestados pela ASMECL ? Apenas o custo de ter
estado num quarto individual . Nada mais !
E estes benefícios eram dados por uma instituição mutualista que vivia
apenas das quotizações e donativos dos sócios. Muito melhor que o que qualquer
companhia de seguros oferecia aos seus clientes ! Infelizmente, a ASMECL
hoje já não funciona assim : na vida nem tudo tem evoluído para melhor.
Na minha
opinião, o mutualismo e o cooperativismo são das mais notáveis maneiras de nos
ajudarmos uns aos outros e de resolvermos os nossos problemas
Outras (
boas ) recordações
Foi na maternidade
da Associação que nasceram os meus 2 filhos, ambos por cesariana, e duas das
minhas netas, por parto normal
Uma reflexão
que faço ainda sobre o que se passou e foi relatado em 3)do ) Que fazia
eu em Xabregas, num dia de semana, quando era suposto estar
a trabalhar? Resposta : ia ao
cais levantar o meu carro e alguns pertences que tinham regressado do Lobito (
Angola ), via Inglaterra !
De facto,
quando, em Setembro de 1975, a direcção da Empal onde eu era o gerente fabril e
co-responsável, decidiu suspender temporariamente o funcionamento da fábrica, até
passarem os tumultos pré-independência de Angola ( que iria ter lugar em
Novembro ) e proceder ao repatriamento de pessoas e bens para Portugal, o meu
carro pessoal, não o de serviço, foi embarcado num cargueiro com destino a um
porto inglês. Aí, os serviços da Unilever ( a multi-nacional dona em conjunto
com a firma Jerónimo Martins, Lda da
Fima- Empal ) se encarregariam de o remeter para Portugal. Esta operação
demorou vários meses e só no princípio de 1976 o carro chegou a Lisboa. E eu fui avisado para o ir buscar Digamos que
o meu atropelamento foi o ponto final das minhas estadias em Angola, de
1963 a 1965 durante a guerra colonial e em 1975, na minha « comissão
civil » ao serviço da Fima-Empal. Em ambos os casos, corri perigos, ouvi
tiros e não me sucedeu nada ! Nem sequer estive doente . E foi em Xabregas que o
destinou me pregou uma partida, quase me deixando morrer ingloriamente no
asfalto duma rua de Xabregas
F . Fonseca Santos
Lisboa, 5 de Maio de 2017