NO RESCALDO DOS GRANDES INCÊNDIOS DE
JUNHO E OUTUBRO DE 2017
Nos grandes
incêndios que começaram a 17 de Junho e a 15 de Outubro morreram mais de 100
pessoas e houve muitos milhões de euros de prejuízos materiais.
Tragédias
como nunca tinham acontecido em Portugal e foram consequência da mudança de
grande parte da população do interior para as cidades e vilas do litoral, da
mudança no paradigma de utilização das matas pelos pequenos proprietários, de
falta de políticas eficazes no ordenamento do território e na selecção das
espécies de árvores para as nossas florestas, de deficiências na escolha dos
meios de prevenção e de combate aos
fogos, de mão criminosa ao serviço de interesses inconfessáveis, e,
pontualmente este ano, de condições climatéricas anormais e de incompetências
na direcção do combate às chamas.
Alguns dirão
que foi pouca sorte do presente governo socialista esta situação ter ocorrido
num dos anos do seu mandato e não em anos anteriores, no exercício do governo
PSD+CDS durante o qual se verificou uma série de opções erradas que aumentaram
a probabilidade de acontecerem tragédias ( desinvestimentos, liberalização da
cultura do eucalipto, etc. ).
Pessoalmente,
penso que para os portugueses é mais favorável ser o presente governo, com o
apoio de Sr. Presidente da República ( PR) a minorar o mal feito e a preparar o
futuro. Tenho a convicção que, assim, os interesse dos que mais precisam serão
acutelados.
Em resultado
do que aconteceu, o Sr. Primeiro Ministro (PM) teve de enfrentar acusações, críticas,
juízos de valor dos mais variados quadrantes políticos, sociais, jornalísticos
muitos dos quais a destempo e sem razão de ser.
Relembro 4
situações : a moção de censura proposta pelo CDS; a entrevista à TVI conduzida
pelo Sr. Pedro Pinto ; a sua presença na sessão de encerramento do congresso
dos Bombeiros; e um improviso do PR.
Em todas
elas, o PM se comportou exemplarmente com grande sentido de governante, não
entrando no jogo do passa culpas ou de quem é que tem a culpa, mas informando
ou repisando, o que estava já feito e o que se irá fazer em relação às
consequências dos fogos.
Na moção de
censura é natural que as oposições de direita procurassem tirar o maior partido
possível das catástrofes, como se nos anos anteriores não tivessem tido a sua
quota parte de responsabilidade. O jogo partidário em Democracia tem disto.
Na
entrevista feita pelo Sr. Pedro Pinto num cenário de Quartel de Bombeiros, o
entrevistador não se limitou a fazer perguntas e a eventualmente questionar as
respostas. Antes de cada pergunta, fazia um pequeno introito, certamente bem
estudado, introduzindo juízos de valor sobre a actuação do governo e dos
organismos de combate aos incêndios como se fosse um especialista na matéria ou
um juiz de direito. Presunção e água benta….
Na sessão de
encerramento do congresso da Liga de Bombeiros, o respectivo presidente, o Sr.
Mota Soares, diligente militante do PSD, muito inflamado e muito vermelho ( se
não estivesse a ver a cena em diferido, teria tido receio de que o Sr. fosse
ter uma apoplexia ) apontando um dedo ao PM gritou-lhe que senão dessem ouvidos
à Liga dos Bombeiros teriam a “guerra” nas ruas ( soldados da paz a fazer a
“guerra”! ) . O PM não perdeu a calma e disse mais uma vez o que iria fazer e
que a colaboração de todos era necessária.
Quanto ao
acima mencionado improviso do PR, que muita gente interpretou como uma crítica
à actuação do governo com a indicação do que era necessário fazer naquele
momento e os meios de comunicação social consideraram que era um choque frontal
com o governo, veio a saber-se que as medidas sugeridas pelo PR tinham-lhe sido
previamente comunicadas pelo PM como a linha de acção a pôr em prática! Em
comentários posteriores o PM não ligou, não se mostrou “chocado” ( chocar chocam as galinhas como diziam os
antigos) e reafirmou a sua lealdade institucional ao PR.
Quanto à
rapidez com que as pessoas têm de ser indemnizadas, que os interessados
directamnte ( com razão ) e os interessados pela via da política, reclamam, o
Estado tem o dever de o fazer, mas sem entrar em procedimentos ilegais. Ninguém
está certamente à espera que o PM vá aos locais afectados com o livre de
cheques na mão e pergunte às pessoas : qual foi o seu prejuízo, quanto é que
precisa ?
Aliás
como dizia o meu saudoso professor de Matemática no Liceu Passos Manuel :
“Depressa e bem só coices !”
Sobre as
alterações à política florestal, à
prevenção, ao combate aos fogos para o que o PR reclama um grande
consenso nacional, duvido que isso venha a acontecer. Há muitos interesses em
jogo e portanto as recomendações da Comissão Técnica Independente não serão
postas em prática sem oposição de alguns daqueles interesses. Alem da habitual
tendência dos portugueses de pensarem e dizerem “ eu é que sei”.
Tenhamos
esperança que o Governo, ouvindo os verdadeiros especialistas nas várias áreas
e partindo do princípio de que as pessoas estão em primeiro lugar, saiba pôr em
prática as políticas necessárias para proteger o futuro dos portugueses que
vivem no interior.
Lisboa, 8 de
Novembro de 2017