sábado, 22 de dezembro de 2018

GREVES e GREVES

Grande número de greves, originadas principalmente pela acção de sindicatos de trabalhadores do Estado estão em curso ou anunciadas. Seria interessante perceber porque razão no tempo do governo PSD+CDS+troika, em que os impostos foram colossalmente aumentados ( para repetir a expressão do ministro das finanças de então ), os ordenados, as pensões e as contribuições sociais foram reduzidos, as taxas moderadoras do SNS aumentadas, os atingidos ficaram pouco mais que quietos. A grande excepção foi a revolta social , vencedora, provocada pela tentativa de reduzir a TSU para as empresas. E porque razão, agora que a quase totalidade dos malefícios causados pelo anterior governo foram eliminados ou estão em curso de o ser, é que as pessoas se manifestam ? Não sou sociólogo para poder fazer uma abordagem científica ao estudo do problema, mas atrevo-me a apontar algumas possíveis razões : - as pessoas atingidas ficaram tão esmagadas psicologicamente que perderam o ânimo para reagir ; - as quebras nos vencimentos dissuadiam as pessoas de fazer greves para evitar perderem ainda mais rendimentos - a convicção criada de que não valia lutar contra um governo com maioria no Parlamento e sem simpatia pelos trabalhadores ( alguns dirão que os trabalhadores aceitaram patrioticamente os sacrifícios para salvar o País; duvido, pois todos tinham a clara certeza de que os sacrifícios foram para os que menos podiam e que os que mais podiam continuaram a fazer as suas vidas sem restrições * ) ; - hoje em dia como a situação geral da economia e os rendimentos melhoraram, as pessoas já se sentem com forças, e com fundos, para fazer greves ; - e como a situação económico-financeira melhorou, pensam que o Estado tem obrigação de ser mais generoso com os seus funcionários – mesmo que isso signifique aumento do défice público. Um Governo de Esquerda e ainda para mais a menos de um ano de novas eleições teria todo o gosto e interesse em satisfazer os desejos dos seus trabalhadores, se não fosse perigoso fazê-lo De facto o objectivo de atingir um défice público de 0 % para que o Estado deixe de pedir dinheiro emprestado, afastando o perigo duma nova troika a condicionar a nossa vida, é fundamental. Os juros dos empréstimos externos são actualmente muito baixos fruto principalmente do Banco Central Europeu comprar os empréstimos das dívidas soberanas, situação que tem um fim à vista em 2019. Depois disso, ninguém consegue prever qual será a reacção dos emprestadores, se será calma, nervosa ou especulativa. Por muitas teorias económicas que os especialistas tenham desenvolvido, também ainda não é possível prever quando surgirá nova “crise”. O que se sabe é no sistema capitalista actual as crises alternam com intervalos de bonança ; e se agora estamos em era de bonança, uma crise virá a seguir. Portanto o Governo actual tem procurado compensar as perdas de rendimento individuais resultantes da acção do governo anterior, sem pôr em risco a estabilidade financeira cujo descalabro poderia dar origem à eleição duma maioria de direita nas próximas eleições o que provavelmente originaria novamente corte nos ordenados e pensões. Nenhum trabalhador quer isso, certamente. A aparente simpatia com que os partidos da direita estão a encarar as reivindicações dos funcionários públicas, na minha opinião não passa de hipocrisia política Voltando às greves actuais não podemos deixar de verificar que nalgumas delas a dificuldade em chegar a acordo com o Governo deve-se muito a motivações políticas. Sindicatos há que, embora sabendo as razões do Governo ( acima resumidas ) continuam com exigências que à partida sabem não poder ser satisfeitas. Esta intransigência é do verdadeiro interessa dos trabalhadores ? Dos utentes dos serviços públicos não é de certeza, digamos mesmo que certas classes profissionais, necessárias ao funcionamento do SNS correm o risco de passar a ser consideradas um inimigo público de quem, p. ex. , vê adiada uma cirurgia há muito ansiada e não tem alternativa – como sempre e injustamente, são os que menos podem os mais prejudicados. Por isso dizemos que há Greves e Greves, com o subentendido que se pode tirar da leitura deste texto. (*) Como termo de comparação ao que poderia ter sido na altura do governo PSD+CDS+troika, é interessante ler no semanário Expresso de 22-12-2018 a solução apresentada pelo Ministro das Finanças da Roménia para remediar a crise do seu País : novas taxas para os bancos, para as empresas de energia e de telecomunicações. Tal decisão causou quebras acentuadas nos valores bolsistas, o que certamente alarma os interesses financeiros. Mas qual é a solução mais justa : empobrecer os cidadãos comuns, como foi feito em Portugal, ou reduzir a riqueza dos accionistas, como vai ser feito na Roménia ? Lisboa, 22 de Dezembro de 2018

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