quinta-feira, 16 de março de 2017

AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS FRANCESAS DE 2017 - 1


AS ELEIÇÓES PRESIDENCIAIS FRANCESAS

DE 2017

  1. EMMANUEL MACRON

Se é verdade que as eleições presidenciais francesas dizem respeito aos franceses,  não é menos verdade que também interessam aos europeus, principalmente aos da Zona Euro (ZE )

Conforme a ideologia do presidente eleito, assim os cidadãos europeus poderão ter ou não alguém de peso interessado em tornar a EU mais amiga dos cidadãos comuns ou pelo contrário mais amiga dos investidores e das empresas ( como tem sido a cultura política dominante desde há décadas  ), mais amiga do bem-estar e do desenvolvimento para todos, ou mais amiga dos lucros das empresas e do controlo cego dos défices públicos.

Nestas circunstâncias,  fui observar um pouco mais o que propõe um candidato , cujo pensamento desconhecia, o centrista E. Macron ( EM )  Visitei o respectivo sítio na internet e passo a comentar o que li

1. Construir uma Europa que desenvolva o emprego e a economia

Não é um objectivo inédito. Todos dizem que querem o mesmo. EM propõe um orçamento da ZE, votado por parlamento da ZE e executado por Ministro da Economia e das Finanças da ZE.

Seria um passo na integração europeia. A dúvida é se haveria preocupação  com o desenvolvimento acelerado dos países mais pobres no caminho da igualdade ou se prevaleceria o egoísmo dos países ricos, com maior número de deputados, maior contribuição para o orçamento e portanto maior poder.

2. Lutar contra os arranjos fiscais entre estados e multi. nacionais.

EM dá como exemplo negativo o caso da Apple e da Irlanda. É sem dúvida uma luta a travar para evitar o dumping fiscal.

3.Reservar o acesso aos mercados públicos europeus às empresas  que realizem pelo menos metade da sua produção na Europa.

É uma medida proteccionista, mas que não me repugna aceitar.

4. Estender o programa Erasmus aos aprendizes

Tudo o que seja abrir horizontes aos jovens é boa ideia.

5. Construir uma Europa protectora em matéria de defesa militar.

EM propõe criar, em conjunto com a Alemanha e outros países, voluntários, um Fundo Europeu de Defesa para financiar equipamentos militares comuns ( drones europeus, etc.). De facto, a evolução do mundo não vai no caminho da paz, mas pelo contrário no caminho de guerras atrozes localizadas em certas zonas do globo e do terrorismo sobre civis como instrumento complementar,   sem esquecer a luta por interesses estratégicos entre grandes potências, que por vezes passa de guerra comercial a guerra por territórios

Para fazer face a estas tendências a EU não se pode remeter a um pacifismo suicida. Tem que mostrar aos outros que, embora não desejando conflitos, está pronta para tudo

Nota : esta minha opinião não significa que as fábricas de armamento europeias ajudem a prolongar conflitos com a venda de armas aos beligerantes. Aliás, o fabrico de armamento deveria estar reservado aos Estados e sob vigilância das Nações Unidas

6. Construir uma Europa que proteja as suas indústrias estratégicas.

EM quer um mecanismo de controlo dos investimentos estrangeiros na Europa  a fim de preservar os sectores estratégicos. Não está dito quais são os sectores estratégicos a preservar, mas em princípio é uma ideia a considerar seriamente.

7. Na discussão do Brexit, defender a integridade do mercado único europeu.

Ou seja, exigir que todas as empresas que queiram aceder ao mercado único europeu cumpram as mesmas regras. Certo

8.Criar um mercado único do digital na Europa.

EM propõe criar um fundo de capital de risco para permitir o desenvolvimento de start-ups europeias

9. Criar um mercado único da energia na Europa.

Aqui, EM não dá detalhes. Acrescenta apenas que será fixado um preço base para o carbono nos países da EU

Sem dúvida, pode ser um elemento para evitar desigualdades na concorrência.

10. Dar a palavra ao povo

É proposto realizar convenções de cidadãos em toda a Europa a partir do fim de 2017 para voltar a dar um sentido ao projecto europeu. Estas convenções conduziriam a um projecto que seria de seguida adoptado pelos países que o desejassem. Não seria possível a nenhum estado membro bloquear esta nova etapa.

Dar a palavra ao povo quando os dirigentes não sabem bem o que o fazer é uma boa solução ( mas convém não esquecer que os neo-liberais sabem muito bem o que querem, embora por vezes tenham dúvidas como fazer sem que o povo se aperceba). A realização da ideia poderá ter algumas, ou muitas, dificuldades práticas, mas não deixa de ter o seu valor.

 

Estas ideias parecem-me aceitáveis no caminho  da igualdade económica desejável entre os estados membros, com excepção da nº1 que poderá ser um pau de 2 bicos. Porem nada é dito sobre combate a off-shores, mutualização das dívidas soberanas, redução do peso dos juros das dívidas soberanas e assuntos afins.

Há, no entanto, no conjunto do programa uma questão cuja solução não é apropriada e é mesmo perigosa

EM no que respeita ao apoio ao investimento propõe-se reduzir o IRC francês de 33,3 para 25%, alegando que é esta é a média europeia. Ora isto inicia aquilo que os economistas chamam “a corrida para o fundo”. De facto, se França reduz o IRC, a média europeia será naturalmente reduzida. Então para ficar competitiva, a França reduzirá novamente o IRC e  assim sucessivamente, talvez até 0%.
O que é inadmissível

O que EM deverá propor é uma igualdade de IRC entre as nações da EU, para evitar o dumping fiscal e a concorrência desleal !

 



POSTO NO FACEBOOK EM 16 MAR 2017



SOBRE OS CANDIDATOS ÀS PRESIDENCIAIS FRANCESAS

 

Que lemos nas notícias sobre alguns destes senhores ?

1.Mme Marine Le Pen ( extrema direita )

Está sob investigação do Parlamento Europeu por financiamento ilegal de anteriores campanhas eleitorais e por ter dado empregos fictício à  sua assistente parlamentar

2. M. François Fillon ( direita )

É arguido de ter dado empregos fictícios a familiares

3. M.Emmanuel Macron (centro )

É suspeito de favoritismo ao atribuir sem concurso prévio

à Havas um evento promocional nos EUA, no tempo em que foi Ministro da Economia

É caso para perguntar : não existe no Centro, na Direita, na Extrema Direita da cena política francesa,

nenhum político acima de qualquer suspeita que se possa apresentar ao eleitorado sem problemas ?