quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A SAUDAÇÃO DE CENTRNO À GRÉCIA


 

A propósito da saída da Grécia do 3º programa de assistência da UE, Mário Centeno na sua qualidade de presidente do Eurogrupo, dirigiu, através dum vídeo, palavras de circunstância aos gregos.

Essa palavras que no meu entender, são apenas de felicitações e de encorajamento para o futuro, sem deixar de lembrar os sacrifícios feitos, desencadearam uma onda de críticas irrazoáveis. Desde logo do professor bon vivant Yanis Varoufakis ( ex ministro das finanças do 1º governo do Sr. Tsipras ) , seguindo-se os partidos à esquerda do PS, os partidos à direita e até o deputado PS, Sr. João Galamba.

O povo grego, como aliás aconteceu à generalidade dos portugueses, mas não aos que mais tinham, sofreu ferozes imposições restritivas dos representantes dos seus credores e teve de se desfazer para as mãos de privados, provavelmente estrangeiros, dos  empreendimentos e empresas públicas rentáveis.. Não creio que um homem de esquerda como o 1º Ministro Tsipras tivesse algum prazer nisso ( outros em circunstâncias semelhantes tiveram ) mas entre não aceder às exigências dos credores ( sair do euro, voltar a um dracma certamente sem valor internacional , arriscar-se a não ter quem emprestasse dinheiro, enfrentar uma miséria muito maior) e negociar com a UE e o FMI, o governo grego escolheu a segunda hipótese, o menor dos males .

Agora , tal como Portugal, e desde que cumpra o acordado com a EU, o governo grego pode por em prática um plano de recuperação da economia que favoreça em primeiro lugar os gregos que mais precisam e em segundo lugar todo o país.

Terá liberdade de escolher uma política que gradualmente ponha termo à austeridade e que demonstre que havia alternativas. É importante, como Portugal tem feito, demonstrar que existem alternativas às exigências da EU e do FMI. Porquê ? Porque as políticas económicas destas entidades têm tido um cariz neo-liberal, têm obrigado à  privatização para mãos estrangeiras das empresas nacionais rentáveis, têm obrigado a reduzir as defesas dos trabalhadores perante os empregadores, têm sacrificado sobretudo a população de mais baixos rendimentos.

Os governos verdadeiramente sociais-democratas da UE têm obrigação de lutar por uma economia de carácter social ( uma economia em que as pessoas sejam realmente mais importantes que o dinheiro ) em todos os órgãos da EU onde tenham representantes. Será um trabalho contínuo e duro, pois as nações ( como as pessoas ) mais ricas não querem abrir mão dos seus privilégios, mas para que a UE tenha significado ( e eu sou um europeísta ) é preciso menos egoísmo e mais solidariedade.

Quanto à lição a tirar dos casos português e grego para mim é fundamentalmente esta : não pedir dinheiro emprestado aos bancos, a não ser para situações pontuais bem definidas, não criar dívidas soberanas, não ter défices orçamentais. Em suma não estar dependente do dinheiro de terceiros.

Finalmente, sobre as críticas ao texto do Sr. Mário Centeno são todas compreensíveis, excepto uma :
As  do Sr. Varoufakis são naturais pois ele fracassou em relação ao que pretendia fazer ( e em geral não perdoamos aos outros os nossos fracassos); as dos partidos à esquerda do PS são naturais porque ou não aceitam sequer a existência da EU ou abominam as respectivas políticas económicas ; as críticas dos partidos à direita do PS também são naturais pois tudo o que Governo e o seu Ministro das Finanças fazem está mal feito. Só não percebi a critica do Sr. João Galamba mas talvez um dia o mesmo senhor explique melhor.

Para mim o que disse o Sr. Mário Centeno não contradiz aquilo em que acredito e que resumidamente aqui deixei escrito. Por isso não tenho reparos a fazer às suas palavras

 

Lisboa, 22 de Agosto de 2018

 

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