A propósito da saída da
Grécia do 3º programa de assistência da UE, Mário Centeno na sua qualidade de
presidente do Eurogrupo, dirigiu, através dum vídeo, palavras de circunstância
aos gregos.
Essa palavras que no meu
entender, são apenas de felicitações e de encorajamento para o futuro, sem
deixar de lembrar os sacrifícios feitos, desencadearam uma onda de críticas
irrazoáveis. Desde logo do professor bon
vivant Yanis Varoufakis ( ex ministro das finanças do 1º governo do Sr.
Tsipras ) , seguindo-se os partidos à esquerda do PS, os partidos à direita e
até o deputado PS, Sr. João Galamba.
O povo grego, como aliás
aconteceu à generalidade dos portugueses, mas não aos que mais tinham, sofreu
ferozes imposições restritivas dos representantes dos seus credores e teve de
se desfazer para as mãos de privados, provavelmente estrangeiros, dos empreendimentos e empresas públicas rentáveis..
Não creio que um homem de esquerda como o 1º Ministro Tsipras tivesse algum
prazer nisso ( outros em circunstâncias semelhantes tiveram ) mas entre não
aceder às exigências dos credores ( sair do euro, voltar a um dracma certamente
sem valor internacional , arriscar-se a não ter quem emprestasse dinheiro,
enfrentar uma miséria muito maior) e negociar com a UE e o FMI, o governo grego
escolheu a segunda hipótese, o menor dos males .
Agora , tal como Portugal, e
desde que cumpra o acordado com a EU, o governo grego pode por em prática um
plano de recuperação da economia que favoreça em primeiro lugar os gregos que
mais precisam e em segundo lugar todo o país.
Terá liberdade de escolher
uma política que gradualmente ponha termo à austeridade e que demonstre que
havia alternativas. É importante, como Portugal tem feito, demonstrar que
existem alternativas às exigências da EU e do FMI. Porquê ? Porque as políticas
económicas destas entidades têm tido um cariz neo-liberal, têm obrigado à privatização para mãos estrangeiras das
empresas nacionais rentáveis, têm obrigado a reduzir as defesas dos
trabalhadores perante os empregadores, têm sacrificado sobretudo a população de
mais baixos rendimentos.
Os governos verdadeiramente
sociais-democratas da UE têm obrigação de lutar por uma economia de carácter
social ( uma economia em que as pessoas sejam realmente mais importantes que o
dinheiro ) em todos os órgãos da EU onde tenham representantes. Será um
trabalho contínuo e duro, pois as nações ( como as pessoas ) mais ricas não
querem abrir mão dos seus privilégios, mas para que a UE tenha significado ( e
eu sou um europeísta ) é preciso menos egoísmo e mais solidariedade.
Quanto à lição a tirar dos casos português e grego para mim é
fundamentalmente esta : não pedir dinheiro emprestado aos bancos, a não ser
para situações pontuais bem definidas, não criar dívidas soberanas, não ter
défices orçamentais. Em suma não estar dependente do dinheiro de terceiros.
Finalmente, sobre as
críticas ao texto do Sr. Mário Centeno são todas compreensíveis, excepto uma :
As do Sr. Varoufakis são naturais pois ele
fracassou em relação ao que pretendia fazer ( e em geral não perdoamos aos
outros os nossos fracassos); as dos partidos à esquerda do PS são naturais
porque ou não aceitam sequer a existência da EU ou abominam as respectivas políticas
económicas ; as críticas dos partidos à direita do PS também são naturais pois
tudo o que Governo e o seu Ministro das Finanças fazem está mal feito. Só não
percebi a critica do Sr. João Galamba mas talvez um dia o mesmo senhor explique
melhor.
Para mim o que disse o Sr.
Mário Centeno não contradiz aquilo em que acredito e que resumidamente aqui
deixei escrito. Por isso não tenho reparos a fazer às suas palavras
Lisboa, 22 de Agosto de 2018
Sem comentários:
Enviar um comentário