segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A DIRECÇÃO GERAL DE SAÚDE, OS CRÍTICOS E A FESTA DO AVANTE

Uma coisa é certa : os anos que tenho para viver são muito menos do que aqueles que já vivi. Mas existem coisas que gostaria de fazer e que a pandemia veio adiar, ainda não sei para quando. Por isso ouço e leio com muito interesse as notícias que vão surgindo sobre a evolução da doença, os novos conhecimentos que vão surgindo, as vacinas e os tratamentos em investigação - sempre na esperança de ficar a saber que os perigos da pandemia vão ser afastados. Uma das minhas fontes informativas, desde o principio, assistindo em directo ou em diferido, são as conferências de imprensa do Ministério da Saúde / Direcção Geral de Saúde (DGS ), onde é feito o ponto da situação diária e são dadas respostas às questões postas pelos jornalistas. Tive, e tenho, sempre a noção de que as informações e as respostas eram, são, dadas com toda a honestidade e vontade de esclarecer as pessoas e nunca notei qualquer desejo de evitar um assunto ou tentativa de ocultação de factos. Tive sempre a sensação de estar perante pessoas de confiança. Uma ou outra vez as orientações expressas foram alteradas, mas considero que isso é sinal de inteligência – na medida em que inteligência á a capacidade de se enfrentar situações novas, um atributo dos humanos. A maneira como deve ser enfrentada a pandemia e os cuidados a ter diferem, quer nas decisões das autoridades dum país ( variando entre posições extremas como a Suécia e a China ) quer nas opiniões de especialistas, de pessoas que emitem opiniões na comunicação social ou simplesmente de populares. A mim, opinião de popular, parece-me que as directivas emanadas pela DGS são sensatas, baseadas nos conhecimentos científicos disponíveis, não variando conforme diga respeito à situação ou ao acontecimento A, B ou C e procurando manter o equilíbrio possível entre a precaução e a necessidade de continuarmos as actividades sociais, profissionais e lúdicas. Em resultado da diferença de opiniões acima falada, a DGS tem sido atacada, por vezes de forma civilizada, no campo das ideias, por vezes de forma sectariamente violenta e injusta ( *), por vezes por fazer de mais, por vezes por fazer de menos. E o Governo, na sua obrigação de promover o bem comum, toma as suas decisões em conformidade com as informações técnicas que lhe são fornecidas, transformando-as em decisões políticas com força de lei. Há quem não goste e barafuste, nada de anormal : é o sistema democrático a funcionar. Mas a legislação é para ser cumprida, não pode ficar ao livre arbítrio de cada um fazer o que apetece, quando não concorda. O caso da festa do Avante é um caso típico de mistura de preocupações de saúde publica com luta política. Os adversários políticos do PCP estiveram visceralmente contra a realização festa, alegadamente por razões sanitárias, mas na realidade porque são contra o PCP e para DAevitar uma acção de propaganda política em grande escala, chegando a insinuar que o Governo nã proibiu a festa para tentar conquistar o PCP relativamente à aprovação do orçamento para 2021 ( omo se o PCO se deixasse convencer por esse processo ). Fizeram de conta que ignoravam que, fora do estado de emergência, não é possível a um Governo proibir manifestações politicas. Mas, muitas pessoas genuinamente preocupadas com o controlo da pandemia, também pensaram que o Governo deveria proibir a festa por motivos de saúde pública, para evitar contágios, mesmo que a organização prometesse cumprir as determinações da DGS. De facto, mesmo cumprindo à risca todas as regras, não haveria risco zero, como não há risco zero nos transportes públicos, nos empregos, nos espectáculos autorizados, nas reuniões familiares, na feira do livro, etc. e como não vai haver no regresso às aulas. Devemos ser prudentes e seguir as orientações da DGS, mas não podemos deixar de viver a nossa vida de relação. Tanto quanto me apercebi, a DGS para a festa do Avante não atenuou nem inventou regras : sistematizou para a diversas actividades que iam decorrer o que já estava estabelecido para restaurantes, bares, espectáculos ao ar livre, comícios, etc. E a determinação do número máximo de pessoas obedeceu ao mesmo critério que a lotação das praias. Não me parece que tenha havido incoerências. Mas dito isto, também têm razão aqueles que perguntam: Desde o início da pandemia tanta gente abdicou de tanta coisa, na Páscoa emigrantes não vieram ver as famílias, os outros partidos políticos têm feita a reentrada sem festas populares, continuamos a não fazer tudo o que gostaríamos, porque razão o PCP não se mostrou solidário reduzindo a festa tradicional à parte política? (+ ) Um caso típico é o que o Sr. Director do semanário Expresso disse no artigo que publicou na página 2 do número de 5/9/2020 Lisboa, 6 de Setembro de 2020