quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

VENCIMENTOS NO SECTOR PÚBLICO E NO SECTOR PRIVADO

O Estado é o maior empregador de Portugal. A maneira como são tratados os seus trabalhadores, incluindo os cargos políticos da mais alta responsabilidade, tem sido objecto de análises, considerações, invejas, maledicências, queixas, e sobretudo de comparações com o sector privado. A ideia que tenho, é que os funcionários dos escalões mais baixos da escala de vencimentos ganham acima dos equivalentes no privado, mas que nos cargos mais altos ou de mais responsabilidade como professores, médicos, técnicos muito qualificados, de chefe de serviços em diante se ganha menos que numa grande empresa nacional Vejamos dois exemplos no que respeita a vencimentos NA TAP Tem sido motivo de discussão nos meios políticos, na comunicação social, em conversas informais entre amigos e conhecidos os vencimentos dos Administradores da TAP, numa altura em que o plano de restruturação da empresa prevê, alem de despedimentos, um corte nas remunerações dos trabalhadores que pode ir até 25%. Pelo que tem vindo a lume, o anterior Administrador Executivo Chefe (AEC) recebia por mês 59.000€ ; o novo AEC interino vai ganhar 35.000 € por mês ; uma nova Administrador Executiva, que foi promovida e acumula com a posição anterior, vai auferir 25.000€ ; o Presidente do Conselho de Administração desistiu dum aumento de ordenado e continua a receber 12.000€ por mês. Leque salarial, entre o trabalhador que menos recebe e o trabalhador que mais recebe, o AEC : 1 para 35 Enquanto isto, o Ministro das Infraestruturas, que tutela e manda na empresa, ganha , incluindo despesas de representação, cerca de 6.900€ por mês. Como é possível compreender e aceitar uma grelha salarial em que o Ministro, que manda, ganha pouco mais de metade do Presidente do Conselho de Administração, e este por sua vez ganha cerca de 1/3 do AEC, seu inferior na hierarquia ? Deve haver explicações para esta inversão de valores, mas não estou a ver quais. NA BANCA Outra situação que dá que pensar O Ministro das Finanças ganha cerca de 6.900 € por mês o Governador do Banco de Portugal cerca 17.000 por mês, os Presidentes dos bancos, incluindo a CGD e excluindo as remunerações variáveis, entre 27.500 e 40.000 por mês Leque salarial, tomando como base a CGD, entre o trabalhador que menos recebe e o trabalhador que mais recebe, o presidente executivo : 1 para 45 NO ESTADO Leque salarial entre o trabalhador que menos recebe e o Presidente da República : 1 para 15. Discorramos um pouco sobre os números apresentados Um tipo de opiniões que se ouve muita vez para justificar os baixos vencimentos dos titulares de cargos políticos ( baixos por comparação com o que ganham administradores e directores no privado) é a de que não somos um país rico e os contribuintes não podem pagar mais aos políticos. No privado, acrescentam, é diferente, “eles” podem pagar como quiserem, o negócio é “deles”. De facto o negócio é deles, mas quem paga o negócio são os contribuintes! São os portugueses que compram os seus produtos ou os seus serviços que pagam! Se, por exemplo, um administrador dum banco privado ganhasse como um ministro talvez muitas das comissões bancárias pudessem ser dispensadas, se os administradores das empresas de telecomunicações ganhassem como um ministro talvez os custos cobrados aos clientes pelos “pacotes” fosse mais baixo, se os administradores das grandes empresas de distribuição ganhassem como um ministro talvez os bens postos à venda ficassem mais baratos, se os administradores das grandes empresas ganhassem como um ministro, talvez pudessem pagar melhor a todos os colaboradores Muitos dos que não concordam com esta ideia dirão : que estou a tentar nivelar por baixo, que estou a limitar a iniciativa privada, mesmo que estou a contrariar o deus mercado ( de facto não sou idólatra). A todos responderei : o que estou a sugerir é apenas para “proteger os contribuintes” ( os que contribuem para a empresa Estado e para as empresas privadas) - que é um mote inatacável, já que da esquerda à direita todos o usam – e sobretudo para diminuir as desigualdades excessivas, que continuam a ser uma das lepras dos nossos tempos. O leque salarial no Estado acima referido é uma boa prática.