quinta-feira, 22 de abril de 2021

A PROPÓSITO DA OPERAÇÃO MARQUÊS

O nosso regime democrático tem vários cancros, doenças más, que é necessário combater embora o sucesso da sua eliminação possa ser demorado ou nunca chegar a acontecer. Alguns exemplos dessas doenças: a elevada percentagem da pobreza material ( e muita pobreza de espírito mas essa é difícil, muito difícil de reduzir), a falta de habitação condigna para grande parte da população, a falta de coesão territorial, as dificuldades educativas de muitas crianças , sobretudo das que têm necessidades especiais (apesar da escola pública para todos) as dificuldades com a saúde (apesar do grande esforço do Serviço Nacional de Saúde), o desemprego, os baixos salários para a maioria dos trabalhadores, a morosidade e os custos da justiça, a raridade de órgãos de comunicação social generalistas (OCS) defendendo ideias de esquerda ( como acontece na maioria dos países democratas) – e também a corrupção. A corrupção não é um fenómeno moderno: é uma coisa tão antiga como os outros defeitos, vícios ou pecados dos seres humanos e existe desde que há governos. O que é novo é atenção e o combate que lhe são dados, pelo menos nos estados de direito democrático, pelos governos, e as denúncias públicas, com ou sem razão, pelos OCS. Todos os esforços possíveis em democracia devem ser empregues sem descanso nessa luta. Infelizmente, ainda há indivíduos que sabendo das origens dos dinheiro ou regalias de outrem em vez de lhes virarem as costas, os consideram “uns tipos espertos” . Nunca eliminaremos totalmente a corrupção, como nunca conseguiremos eliminar os roubos, os crimes de morte, o tráfego de drogas. Mas é obrigação nossa, dos governos e dos cidadãos, lutar para que tais crimes sejam reduzidos ao mínimo e severamente punidos. A ocasião faz o ladrão, diz a sabedoria popular, e portanto o que interessa é a criação de condições que evitem a queda em tentação de pessoas que têm a incumbência de gerir dinheiros públicos. Ou particulares, porque não é menos merecedor de castigo aquele que defrauda uma organização privada, com ou sem fins lucrativos. O grande problema é que os delinquentes andam sempre um passo à frente dos polícias no que respeita à descoberta de novos processos criminosos. O Sr. Pinto de Sousa (vulgo José Sócrates) foi um político de estilo agressivo e contundente para os seus adversários, e também para os OCS, amante de lutas políticas (foi ele como Primeiro Ministro que introduziu os debates quinzenais governo-oposições no Parlamento), autoritário, convencido da sua razão que granjeou muitos inimigos. Tinha também um lado carismático que o levou a ser eleito Secretário-Geral do PS e a obter uma maioria absoluta para o seu partido – coisa que políticos de maior valia como Mário Soares e António Guterres não tinham conseguido. Incorreu também na ira das magistraturas ao reduzir as férias judiciais de verão, que eram tradicionalmente de 2 meses, para o mês de Agosto. Tudo isto fez com as suspeitas de eventuais crimes de corrução que lhe caíram em cima fossem investigadas certamente com mais ardor que o habitual, e deu origem a fugas de informação que foram preparando a opinião pública para a sua condenação. E a condenação está feita: a maioria dos cidadãos considera o Sr. Pinto de Sousa culpado de corrupção independentemente dos crimes pelos quais venha a ser julgado, condenado ou absolvido. De facto é muito difícil à generalidade das pessoas acreditar que os dinheiros e as benesses postas à sua disposição pelo Sr. Carlos Santos Silva sejam devidos apenas a uma amizade de infância… Mas com certeza os portugueses gostariam de saber quais foram as vantagens concreta e ilegalmente concedidas ao dito Sr. Santos Silva que motivaram um pagamento, segundo o despacho do juiz Sr. Ivo Rosa, de cerca de 1,7 M €. E qual foi o prejuízo para o Estado daí resultante. A investigação, ou o julgamento, tem o dever de nos esclarecer sobre este ponto. Mas como todos os que se interessam por este assunto preveem , devido a recursos e eventuais contra-recursos motivados pela circunstância de a interpretação das leis não ser um ciência exacta, vai passar muito tempo antes que tal aconteça. Mas vai acontecer. Lisboa, 21 de Abril de 2021

terça-feira, 6 de abril de 2021

SOBRE CRÍTICAS AO MINISTÉRIO DA SAÚDE

Soube-se a semana passada que o Sr. Presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública era militante do PSD desde 2009 e que vai ser director da campanha do candidato do mesmo partido à Câmara Municipal de Lisboa. Tendo o referido Sr. Presidente nas suas crónicas na RTP, sido muitas vezes crítico da actuação do Ministério da Saúde no combate à pandemia Covid 19 que nos atinge desde Março de 2020, quem o viu e ouviu e seja um leigo na matéria, ficará na dúvida se as suas apreciações desfavoráveis tiveram razão de ser, se foram motivadas por interesse público ou por interesse partidário.