quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

SOBRE O SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL (SMN)


SOBRE O SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL (SMN)

                                                                              

O Professor do ISEG, Sr. João Duque, na sua coluna do Expresso Economia de 21 de Janeiro de 2017, calculou qual deveria ser o valor do SMN em 2017 usando dois  processos diferentes.

O primeiro, partindo do seu valor no ano da respectiva criação, 1974, e actualizando-o de acordo com as inflações anuais entretanto verificadas, conduziu ao resultado de 620,47 €.

O segundo, partindo, penso eu, do valor que teria em 1995 e actualizando-o de acordo com os ganhos de produtividade desde então, levou ao resultado de 550,0 € .

O primeiro valor dá  inteiramente razão às pretensões da CGTP, PCP e BE, de subir o SMN imediatamente para 600 €

O segundo era o valor preferido pelo patronato, alegadamente para não perderem competitividade.

Claro que, se quisermos que os trabalhadores com mais baixos salários não percam poder de compra em relação a 1974 e que não se deixe aumentar a transferência de rendimentos dos empregados para os empregadores, facto que os anos da troika acentuaram, o SMN a fixar seria 620

E a diferença não deveria ser compensada com dinheiro dos contribuinte. Dito de outra maneira, o aumento do SMN para as empresas representaria aumento de despesas e diminuição de lucros para os seus proprietários.

Mas isso seria uma catástrofe!, gritarão alguns . O número de falências seria enorme e o desemprego subiria novamente bastante !

Não sei, não tenho maneira de calcular a veracidade do alarme, nem de saber se poderia ser aplicada a expressão “Ai aguenta, aguenta!”, mas presumo que tenha sido por isso que o governo e os partidos de esquerda acordaram em 557 €.

Na verdade se o aumento do SMN tiver que estar relacionado com a produtividade, isso só beneficiará os empresários que estão acomodados à sua rotina, que não querem melhorar os seus métodos de trabalho, que não querem investir nem em novos equipamentos,  nem na inovação. Os trabalhadores serão vítimas duma inércia que afectará o seu nível de vida, sem terem nisso a mínima responsabilidade!.

 Parece-me francamente injusto.

Para que os empregadores menos empreendedores não se possam queixar de serem apanhados de surpresa, a solução poderia ser  a de acordar na concertação social os valores do SMN a fixar para vários anos subsequentes . Isso permitiria aos empregadores saber com o que vão contar e, conjugando isso com outros factores, programar o seu programa de investimentos.

Porem a implementação desta ideia não deveria atrasar a subida do SMN para 600€ o mais depressa possível !!!

A bem dos trabalhadores e a bem da economia pois infelizmente quem aufere o SMN não está em condições de fazer poupanças ( nem de comprar carros novos, importados )

 

Uma outra maneira de calcular o SMN seria a partir do que é necessário auferir mensalmente para ter uma vida, minimamente civilizada, de acordo com os padrões do nosso país e do nosso século – e não usando padrões do século XIX ou dum país do “terceiro mundo” .

Seria muito interessante ver a que valores se chegaria.                                                                           Um desafio para os humanistas com conhecimentos na área

Entretanto, aconselha-se a leitura da crónica do Padre Sr. Tolentino de Mendonça na Revista do Expresso de 4  de Fevereiro onde é resumida a odisseia dum escritor colombiano que resolveu viver 6 meses numa cidade do seu país com o respectivo salário mínimo, sem qualquer outra ajuda.

Não haverá nenhum economista neo-liberal ou chefe de empresa que queira experimentar ?

 

Lisboa, 8 de Fevereiro de 2017