domingo, 25 de junho de 2017

OBJECTIVO : ´DEFICE PÚBLICO ZERO


OBJECTIVO : DÉFICE PÚBLICO ZERO


Dos jornais :O INE apurou um défice público no 1ºT 2017 de 2,1% do PIB; os analistas consideram que o objectivo do Governo de reduzir o défice no final do ano para 1,5% é alcançável

 Antes de desenvolver a ideia de que o défice das contas públicas deve ser 0 ou negativo (superavit), um pouco de História:

Consta que o Rei D. João V, forte com o ouro vindo do Brasil e seguro com a paz feita com a Espanha, terá dito :

“ O meu Avô ( D. João IV ) devia e temia ; o meu Pai (D.Pedro II ) devia ; mas eu não devo nem temo “

Cerca de 3 séculos depois desta frase, e após inúmeras vicissitudes históricas, que poderemos, nós Portugueses, dizer ?        Apesar do meu optimismo, o realismo obriga-me a pensar que a frase certa seja :

“Portugal deve e teme ! “

Que o País deve, toda a gente está consciente. Meios de comunicação social, políticos, altas individualidades, portuguesas e estrangeiras, amigos e inimigos, todos os dias nos dizem isso mesmo.

Mas o País tem razão para temer ?   Uns perguntarão, mas temer o quê ? A invasão espanhola ? Isso já não se usa ( adiante veremos ). Há muito que existe a OTAN que une quase todos os povos europeus e impede guerras entre estados membros. Temer o APEI ( auto proclamado estado islâmico ) ? Esses estão muito longe, tinham de calcorrear muitos km até cá chegar ! Não há perigo e não somos suficientemente importantes para nos considerarem alvo de terrorismo!

Outros perguntarão : temer por causa da dívida ? E esses estarão certos. Embora todos os países devam mais ou menos dinheiro , Portugal é muito vulnerável aos especuladores e agiotas, sem o auxílio de terceiros. Como se provou quando a crise de 2008 nos atingiu. Nessa altura, os emprestadores  internacionais queriam impor-nos taxas de juro incomportáveis e os emprestadores que faziam parte do nosso grupo, a Zona Euro, conluiados com o FMI, acederam a socorrer-nos, mas impondo a sua visão ideológica, neo-liberal e austeritária, da economia e vigiando-nos em permanência. Claro que amigos destes são dos tais em que qualquer dependência pode ser fatal para a maneira como os Portugueses escolherem viver. Em particular se escolherem viver com muito menos desigualdades e com estado social para todos. Eles quererão sempre impor-nos condições que vão de encontro aos seus interesses ( como a privatização das empresas públicas, mesmo que sejam monopólios naturais )

Portanto, para evitar este perigo, o objectivo do Governo deve ser  :

 
DÉFICE ZERO NAS CONTAS PÚBLICAS, INCLUINDO O SERVIÇO DA DÍVIDA               ( PAGAMENTO DE JUROS E DE AMORTIZAÇÕES DE FORMA A REDUZIR AQUELA )   

 Só assim, não precisando sistematicamente de recorrer a empréstimos  para ocorrer às despesas do Estado, poderemos deixar de temer.

Deverá  então ser proibido ao Estado pedir dinheiro a crédito ?  Não totalmente. Empréstimos  só pontualmente e dependendo da justificação

 Por exemplo, para um grande investimento, que estudos diversos apontassem como rentável, pelo dinheiro que pouparia aos portugueses ou pela entrada de dinheiro a que daria origem como alavanca de exportações. Um novo aeroporto para Lisboa seria um caso de estudo neste capítulo.

Outro motivo justificável para um empréstimo vultuoso seria uma evidente necessidade social a satisfazer, como um grande hospital ; ou o reordenamento completo da floresta portuguesa;  ou uma aposta maior no futuro, como um centro de investigação que procurando soluções para problemas da humanidade, fosse mais um polo de atracção de cientistas mundiais.

Uma outra hipótese, a de deixar de pagar aos credores, é praticamente impossível, pois dependentes do exterior como somos em energia, alimentos, medicamentos, etc. não podemos fechar-nos sobre nós próprios, a não ser que estivéssemos dispostos a voltar à Idade da Pedra     ( ou lá perto ).

Reduzir as taxas de juro é uma ambição exequível, penso eu, desde que feita com a sabedoria necessária, sem assustar emprestadores -  enquanto precisarmos deles.

Voltando atrás, para falar duma invasão espanhola, na realidade ela já se verificou, não no campo militar, mas no comércio, na industria, na agricultura e ultimamente com grande aparato, na banca. Depois das mudanças na propriedade do capital dos bancos privados, não sei se o sistema bancário português ainda terá capacidade para financiar projectos que interessem aos Portugueses mas que eventualmente não interessem aos países de origem dos novos accionistas. Neste campo também a EU não foi ajuda.

 

Lisboa, 25 de Junho de 2017

terça-feira, 13 de junho de 2017

O ALARIDO SOBRE UMA DECISÃO RELATIVA À TAP


 

 O 1º Ministro, Sr. António Costa decidiu propor, na eleição a realizar na próxima Assembleia Geral, para representantes do acionista Estado na TAP, os senhores :Miguel Frasquilho, Diogo Lacerda Machado, Ana Pinho, Esmeralda Dourado, Bernardo Trindade e António Gomes de Menezes.

Destes nomes, levantou grande alarido entre os partidos da direita, o nome do Sr. Lacerda Machado (DLM) por ser amigo pessoal do PM e por ter estado envolvido nas negociações entre o Governo e os accionistas privados da TAP para fazer reverter para o Estado uma parte do capital, de forma a que este ficasse com 50% ( como constava do programa que o Partido Socialista apresentou aos eleitores ). Devido à intervenção de DLM, e de outras personalidades que o acompanharam nas negociações,  o objectivo foi conseguido ! Por outras palavras, DLM defendeu os interesses dos portugueses e conseguiu o resultado que lhe tinha sido pedido ( e que não era certamente do interesse dos privados da TAP ). Como é possível então alguém, como o Sr. Passos Coelho, considerar que a proposta do Governo para DLM integrar a Administração da TAP é “uma vergonha, para quem propõe e para quem aceita” ? É uma declaração que só pode ter explicação na decepção de quem vê anulada uma má decisão  ( a privatização da maioria do capital da TAP ), baseada na ideologia neo-liberal e nefasta para os interesses do país.

( Negociar privatizações e depois ir ocupar postos relevantes nas empresas privadas que ficaram com as companhias do Estado é que é uma vergonha !)

Por outro lado, analisando a escolha do Sr. Miguel Frasquilho (MF) para Presidente do Conselho de Administração da TAP, poderá parecer, aos olhos dos defensores da solução encontrada para a TAP, estranha ou mesmo um pouco “perigosa”. Eu não conheço pessoalmente MF, nem aliás nenhum dos outros candidatos a administradores, mas não será ilógico pensar que, dada a sua filiação partidária (PSD), ele seja ou tenha sido um defensor da privatização da maioria do capital da companhia. Também não são conhecidas ligações suas à aviação comercial, que possam explicar a sua escolha
A favor da sua futura eleição tem o facto de ter sido um bom dirigente da AICEP ( a ponto de o presente Governo o ter mantido no seu posto ) e a TAP ser um dos maiores exportadores portugueses. Mas como à partida creio na honradez de todas as pessoas que não conheço pessoalmente  e no seu sentido de cumprimento dos deveres para com o país, não vou fazer nenhum comentário negativo. E desejo a MF e a todos os outros administradores grande sucesso no desempenho das suas funções.

 

Lisboa, 13 de Junho de 2017

 

 

domingo, 11 de junho de 2017

DE NOVO SOBRE IMPOSTOS - IRS PARA 2017


DE NOVO SOBRE IMPOSTOS – IRS PARA 2017

Declaração inicial : não sou fiscalista ( nem gostaria de ser ). As minhas duas principais preocupações relativamente aos impostos são :  a sua justa distribuição entre os portugueses e a sua adequação para fazer face às despesas do Estado, não esquecendo de modo nenhuma as relativas ao Estado Social . Esta última exigência é para mim muito importante pois penso que não devemos ter Estado Social à medida do dinheiro que sobra das outras funções, mas que devemos conseguir, através dos impostos. o dinheiro necessário para garantir o Estado Social que permita a todos uma vida de acordo com o grau de civilização que atingimos.

No justo intuito de continuar a repor os rendimentos dos cidadãos que a troika, través da mão do Sr. Passos Coelho e dos seus ministros das finanças, tinha drasticamente reduzido ( não de todos os cidadãos pois os mais abonados, não devemos esquecer, pouco ou nada sofreram ), o Governo Socialista está a prever um alívio fiscal no IRS do numeroso grupo de portugueses que auferem rendimentos anuais entre 7.035 e 20.100  euros, subdividindo este escalão.
Muito bem. Mas como isso vai reduzir as receitas do Estado, porque não criar mais um ou dois escalões acima do último ? Sobre esta hipótese, escrevi em 22-10-2016, num texto intitulado “ Os Altos Vencimentos dos dirigentes da CGD e o IRS” :

 
OS 5 ESCALÕES DO IRS EM 2016
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
equivalência em salários
 
Rendimento
taxa aplicável
taxa média
mensais, 14 vezes por ano
 
até 7035 euros
14,50%
 
14,50%
 
502,5 euros
 
 
+7035 até 20100
28,50%
 
23,60%
 
+502,5 até1435,7 euros
 
+20100 até 40200
37%
 
30,30%
 
+1435,7 até 2871,4 euros
 
+40200 até 80000
45%
 
37,65%
 
+2871,4 até 5714,3 euros
 
+80000
 
48%
 
 
 
+ 5714,3 euros
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUGESTÃO PARA NOVOS ESCALÕES DO IRS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rendimento
taxa aplicável
taxa média
 
 
 
 
+80000 até 112000
48%
 
40,70%
 
+5714,3 até 8000 euros
 
+112000 até 140000
50%
 
42,50%
 
+ 8000 até 10000 euros
 
+ 140000 até 280000
60%
 
51,30%
 
+10000 até 20000 euros
 
+280000 até 560000
65%
 
58,00%
 
+20000 até 40000 euros
 
+560000
 
70%
 
 
 
+40000
 
 
 

 Seria isto muito despropositado no actual contexto europeu ?  Talvez, mas seria certamente um bom contributo para reduzir as excessivas desigualdades de rendimentos que se verificam

Para comparar com o que se passa noutros países  da EU, recorri à página da internet da conhecida firma de auditores KPMG, Individual Income Rate Tables, (não incluiu  a França )

ESCALÃO MÁXIMO DO IRS NOS PAISES DA ZONA EURO E NÓRDICOS 2017
 
 
 
 
 
 
 
PAÍS
 
TAXA MÁX.
A PARTIR DE, em €
 
 
 
em %
 
 
 
 
ALEMANHA
45
 
256.304
 
 
AUSTRIA
 
55
 
1MILHÃO
 
 
BELGICA
 
50
 
38.830
 
 
CHIPRE
 
35
 
60.000
 
 
DINAMARCA
55,79
 
64.746
 
 
ESLOVÁQUI
25
 
35.022
 
 
ESLOVÉNIA
50
 
70.907
 
 
ESPANHA
 
45
 
60.000
 
 
ESTONIA
 
20
 
2.160
 
 
FINLÃNDIA
54
 
82.000
 
 
FRANÇA
 
45
 
152.260
(a)
 
GRÉCIA
 
45
 
40.000
 
 
IRLANDA
 
46,24
 
70.045
 
 
ITÁLIA
 
43
 
75.000
 
 
LETÓNIA
 
23
 
0,0
 
 
LITUÂNIA
 
15
 
0,0
 
 
LUXEMBURGO
48,78
 
200.004
 
 
MALTA
 
35
 
60.000
 
 
PAÍSES BAIXOS
52
 
67.073
 
 
PORTUGAL
48
 
80.640
 
 
SUÉCIA
 
61,85
 
65.137
 
 
 
 
 
 
 
 
 

De facto, as últimas taxas imaginadas por mim “já não se usam” ( b) na Europa e nos EUA. Para não destoar, limito-me a  propor mais os seguintes escalões

Rendimento
taxa aplicável
taxa média
 
 
 
+80000 até 112000
48%
 
40,70%
 
+5714,3 até 8000 euros
+112000 até 140000
50%
 
42,50%
 
+ 8000 até 10000 euros
+ 140000
55%
 
 
 
Equiv. a +10000 por mês x 14

Esta alteração tornaria mais redistributiva o resultado da colheita de impostos e ajudaria a compensar a quebra devida ao desdobramento do actual 2º escalão

Lisboa 10 de Junho de 2017

F. Fonseca Santos

--------------------------------------

(a) Retirado da pág. da internet  “ journaldunet/patrimoines financiers-impot sur le revenu”

(b) Disse que já não se usam, mas já se usaram, desde a 2ª Guerra Mundial até 1980, como se pode ver no gráfico 14.1 da pág.805 do livro de T. Pikkety  “Le Capitalisme au XXIe siècle”. Convertendo em números os pontos do gráfico, podemos ver que as taxas mais altas do IRS foram ( com a possível precisão tirada do gráfico ):

                       França           Alemanha           Reino Unido          EUA

1955                 66%                  53%                      90%                     90%

1970                 64%                   53%                      90%                     75%

1980                 60%                  57%                       75%                     70%