terça-feira, 10 de abril de 2018

DÉFICE PÚBLICO, PLANO DE ESTABILIDADE, ANSEIOS e RECLAMAÇÕES



Desde o princípio do ano que temos assistido a manifestações e greves de grupos profissionais ligados aos serviços de Estado e às empresas públicas com o objectivo de melhorar os seus rendimentos, seja através de aumentos salariais, seja através de rápido desbloqueamento das suas carreiras (congeladas durante o período do governo troika+PSD+CDS), seja através da melhoria dos respectivos estatutos profissionais.
Temos também assistido a reclamações dos partidos políticos, apoiantes e adversários do Governo ( estes últimos com um notável volte-face em relação que fizeram quando foram governo ) contra a pobreza dos orçamentos do SNS, da Escola Pública, etc
Finalmente, nos últimos dias, os agentes culturais considerados independentes também apareceram a protestar contra o resultado do último concurso de atribuição de subsídios estatais, porque, alegam, aquele foi mal feito e estes insuficientes.
Tudo isto apesar de no Orçamento de Estado aprovado para 2018 as verbas para as pessoas e sectores em causa terem aumentado significativamente. Naturalmente as pessoas gostariam de ver o seu nível de vida e os serviços públicos melhorados mais rapidamente; alegam que isso poderia ter sido iniciado em 2017, pois o resultado das contas públicas mostrou que o défice orçamental foi inferior ao previsto         ( descontando o investimento na CGD ).
O Governo, pelo seu lado, embora reconhecendo a razão de todos os anseios manifestados, e concordando em princípio com a necessidade da sua satisfação, prefere andar lenta mas seguramente para simultaneamente continuar a baixar o défice das contas públicas.
É que, neste ponto há que ter em atenção o seguinte : enquanto houver défice nas contas públicas, o Estado terá de continuar a pedir dinheiro emprestado e a dívida pública em euros vai aumentando. Ou seja haverá mais dinheiro e mais juros para pagar.
( Dizer que a dívida pública em relação ao PIB tem baixado, porque o PIB sobe mais que a dívida, não invalida a afirmação anterior ).
A dívida pública só estabilizará quando o défice for ZERO e só poderá a começar a ser paga quando houver superavit..
Isto não é ideologia : é aritmética pura.
Os juros dos empréstimos que o Estado tem continuado a pedir, ao contrário do que aconteceu em 2011, durante o governo de José Sócrates, e que motivou o pedido de resgate e o desembarque da troika, são mais amenos – mas continuam a ser positivos para os emprestadores, claro.                      (   O dinheiro gasto com o pagamento de juros não pode ser usado para benefício da população, é óbvio )
Existem várias explicações para que isto esteja a acontecer:
O Governo tem conseguido controlar o balanço entre despesas e receitas públicas de forma diminuir o défice, ganhando credibilidade na União Europeia e nos meios financeiros mundiais; as agências internacionais de “rating” retiraram a Portugal a classificação de “lixo” levando os investidores, especuladores e particulares a considerarem  negócio de pouco risco comprar dívida pública portuguesa; e o Banco Central Europeu está a comprar todas as obrigações da dívida portuguesa que lhe quiserem vender.
Na minha opinião, esta é a principal razão ( sem de modo algum menosprezar o meritório esforço do Governo, dos partidos que o suportam e em última análise da generalidade dos portugueses ) dos baixos juros dos empréstimos. Mas esta situação, como tudo na vida, não vai durar sempre e pode ser revertida logo que o Sr. Mário Draghi deixe a presidência do BCE e seja substituído por um senhor alemão. A partir daí, os juros flutuarão conforme o que os deuses ou os demónios ( depende da opinião ) dos mercados ditarem.
E se os juros voltarem a ser insuportáveis, caímos na situação de 2011
Conclusão : é urgente deixar de necessitar de pedir dinheiro emprestado E o plano de estabilidade para 2018-2022 deve ter isto em conta
Mas, e se houver necessidade de fazer um grande investimento público, será perigoso pedir dinheiro emprestado ?
Depende do investimento e da respecitva rentabilidade, Se se tratar do novo aeroporto de  Lisboa, ou, outro exemplo, duma fábrica de modernas baterias de lítio para abastecer o mercado emergente dos carros eléctricos, talvez seja atractivo  para investidores. Depende muito  do cálculo económico-financeiro e da credibilidade que venha a merecer.

Antes de terminar, um comentário sobre um tema que tem merecido críticas dos partidos da oposição : a carga fiscal. Queixam-se que ela  é enorme, terrível, exagerada. mas por outro lado queixam-se também de falta de investimento no SNS, na Escola Publica, nos transportes, etc. Como é possível haver mais investimento com menos impostos e sem aumentar a dívida pública ? . Terão coragem de sugerir que devem ser reduzidas as pensões,   os ordenados dos trabalhadores do Estado e das empresas públicas , as prestações sociais ?

Lisboa, 10 de Abril de 2018