sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


SUGESTÕES DO SR. J. STIGLITZ PARA MELHORAR O FUNCIONAMENTO DA EUROZONA

Devo começar por dizer que, com todas as suas virtudes e todos os seus defeitos, gosto da Europa, gosto de me sentir europeu e acho que tive muita sorte em ter nascido em Portugal. É natural que haja sítios melhores para vir ao mundo, mas há muitos mais locais francamente piores. Claro que esta apreciação depende da situação de cada um : para uma pessoa nascida numa família muito rica talvez seja indiferente o local de nascimento – desde que possa conservar a sua riqueza. Mas também acredito que haja pessoas felizes, independentemente da sua fortuna, em todos os cantos do universo.

Tive grandes esperanças na União Europeia ( e ainda tenho ) e até na criação da moeda única. Pensei que tanto uma coisa como outra contribuiriam para nos aproximar  dos níveis de cultura e de conforto dos países nórdicos e dos que anteriormente se diziam da Europa Ocidental. Inicialmente parecia que tudo corria bem: entrou dinheiro a rodos - uma grande parte do qual, chegou-se depois à conclusão, foi mal aproveitado – e o nível de vida dos portugueses subiu em relação aos países com os quais nos gostamos de comparar. Penso que na altura, a generalidade da população não se deu contas das grandes pedras no sapato que apareceram : a perda de competitividade das nossas indústrias, o abandono duma parte substancial da actividade agrícola, a redução dramática da nossa frota pesqueira, o endividamento dos particulares. Depois da viragem do século, o esperado progresso começou a derrapar, ou seja o crescimento do PIB pouco ficou acima da estagnação. E depois veio tremendo desastre resultante da importação da crise financeira dos EUA e da falta de resposta condigna e solidária das instituições da UE ( o resgate, a troika, etc. ) Li várias explicações convincentes para o que tinha sucedido ao nosso país, mas nunca percebi bem como é que a UE tinha falhado . Até que li o livro do Sr. J. Stiglitz  “THE EURO AND ITS THREAT TO THE FUTURE OF EUROPE” ( está traduzido em português mas não tem sido citado, quer em aprovação, quer em desaprovação, pelos agentes políticos nem pelos comentadores dos meios de comunicação social, no entanto é bastante fácil de ler ).

No livro, além da análise ao funcionamento da EU e em particular da Eurozona, são propostas várias medidas para tornar a Europa mais solidária, promover o pleno emprego, reduzir a desigualdade entre países ricos e países pobres e as desigualdades dentro de cada país

Achei que valia a pena chamar a atenção, pelo menos dos meus amigos e dos meus correspondentes de e-mail, para o assunto na tentativa de provocar discussão e de levar alguém  mais longe na acção.

O que fiz foi resumir as propostas do Sr Stiglitz enunciadas do Capítulo 9 do livro e apresentá-las a quem se interessar e tiver paciência de ler.

 

  1. REFORMAS ESTRUCTURAIS Este tipo de reformas destina-se a originar um sistema económico que provoque o crescimento harmonioso dos países e o pleno emprego. Implica 7 mudanças estructurais na maneira de governar a EU.

Estas mudanças são de 2 categorias  : anti-divergentes e pró-convergentes

 

Reformas estructurais destinadas a impedir a divergência entre os países da Eurozona

 

A.1) CRIAR UMA VERDADEIRA UNIÃO BANCÁRIA

Ou seja : além da supervisão bancária comum e dos processos de resolução ( em caso de insolvência ) comuns já criados, instalar um sistema de segurança comum europeu para salvaguardar os depósitos .

 

A.2) CRIAR UM SISTEMA DE MUTUALIZAÇÃO DAS DÍVIDAS SOBERANAS, através  p.ex. da emissão pelo BCE de Euro-obrigações ( Eurobonds ), subscritas pelo conjunto da Eurozona e com os rendimentos distribuídos pelos emprestadores. Seriam estabelecidas normas evitar abusos.

 

Reformas estructurais destinadas a promover a convergência dentro da Eurozona

 

A.3) UM NOVO ENQUADRAMENTO DAS REGRAS QUE PROMOVA A ESTABILIDADE ECONÓMICA

A.3.1 ) Na regra de limitação do défice orçamental, criar uma distinção entre despesas de funcionamento e despesas de investimento.

A.3.2 ) Estender as competências do Fundo Europeu de Estabilização de forma a poder contribuir para o pleno emprego dos países em crise.

A.3.3 ) Criar “estabilizadores automáticos” tais como injecção automática de fundos para compensar o desemprego quando um país sofre um choque derivado p.ex. de diminuição drástica de exportações

A.3.4 ) Flexibilidade na concessão de crédito de forma a financiar as pequenas empresas viáveis que necessitam de crédito para sobreviver nas alturas de crise. Isto obriga a alargar o mandato dos órgãos regulatórios do sistema bancário da EU.

A.3.5 ) Regulação da economia de forma a evitar excessos de crédito que originaram as bolhas imobiliárias. Ou seja maiores poderes para os instrumento de regulação poderem controlar o tamanho das bolhas e evitar que rebentem.

A.3.6 ) Estabilização das políticas fiscais, ou seja evitar a solução neo-liberal de combater recessões, ou consistem em reduzir o IRC e os impostos dos ricos. Estas medidas neo-liberais só conduzirão a degradação dos níveis de educação e de i&D com graves consequências no desenvolvimento futuro.

 

A.4.) UMA VERDADEIRA POLÍTICA DE CONVERGÊNCIA, BASEADA EM 3 PASSOS

A.4.1) Desencorajar os excedentes na balança de transacções correntes entre os países da Eurozona

Sabendo-se que os excedentes na balança de transacções correntes dum país                 ( tipicamente o caso da Alemanha ) tem como contrapartida défices na balança doutro ou doutros países, e que um país com excedentes torna-se num credor e que um país com défice torna-se num devedor, é necessário limitar ou regular os excedentes. Isto está previsto nas regras da Eurozona, mas nunca é posto em prática. Já o Sr. Keines tinha proposto um imposto sobre o excedentes no sentido de os desencorajar. O resultado desse imposto deveria servira para engordar o Fundo de Solidariedade acima mencionado.

A.4.2 ) Os países com excedentes deveriam promover uma política expansionista de vencimentos, quer fixando salários mínimos mais elevados, quer libertando todos os constrangimentos à contratação colectiva. A elevação dos custos trabalho levaria a uma diminuição nas exportações e portanto redução nos excedentes

A.4.3.) Permitir as chamadas ajudas de estada à industria dos países menos avançados para promover o desenvolvimento e a aproximação aos mais avançados. Financiar infra-estructuras  através do BEI

 

A.5. ) AUMENTAR AS RESPONSABILIDADES DO BCE

O mandato do BCE deveria ser alargado, para além da sua incumbência de evitar inflação excessiva, aos deveres de promover o pleno emprego, o crescimento e a estabilidade económica da Eurozona. Ou seja , que o dinheiro chgue efectivamente às pequenas e médias empresas e não se fique pelos circuitos financeiros

 

A.6.) REFORMAS PARA PROMOVER O PLENO EMPREGO E O CRESCIMENTO

São propostas 4 medidas neste sentido

A.6.1. ) Fazer com que o sistema financeiro cumpra o seu papel na economia

Ou seja, criar legislação, regulamentação, etc de forma que os serviços financeiros cumpram a sua função de intermediários entre aforradores e as empresas que necessitam de fundos

A.6.2.) Promover a reforma no modo de administrar as empresas.

Os objectivos de grandes lucros a curto prazo, com bónus excessivos para os administradores e distribuição exagerada de dividendos. descapitaliza as empresas e prejudica o seu rendimento a médio e a longo prazo. Torna-se necessário criar regras de transparência que dificultem estas atitudes.

A.6.3.) Reformar os procedimentos nos caso de insolvência familiar e de empresas de forma a recuperar rapidamente o que pode ser recuperado e evitar a paralisia da economia- sobretudo em épocas de crise.

A.6.4.) Promover os investimentos na chamada economia verde, aumentando as taxas sobre a economia baseada no carbono.

 

A.7. ) PARTILHAR A PROSPERIDADE

De forma a desenvolver harmoniosamente a prosperidade não só membros entre os membros da Eurozona como dos restantes países da EU :

A.7.1 ) Igualar o IRC praticado pelos países, de forma a evitar a concorrência desleal promovida por alguns para atrair a sede das empresas.

A.7.2 ) Aplicar as taxas do IRS de acordo com a cidadania e não de acordo com a residência ou a morada oficial. Aplicar uma sobretaxa de p. ex. 15% para todos os rendimentos acima de 250.000 € , taxa essa que seria usada para fins não lucrativos, como ajuda aos refugiados ou ao estrangeiro

 

B) REFORMAR AS POLÍTICAS A APLICAR NOS PAÍSES EM CRISE

 

As políticas de auxílio aos países em crise devem ter em conta a diversidade de situações e não serem impostas duma forma unilateral, sem ter em conta as soberanias dos visados. Muitas vezes os resultados não foram os esperados.                   Duas mudanças são necessárias.

B.1. ) Abandonar a ideia de que “ a austeridade leva ao crescimento”, quando na realidade só conduziu a maiores desigualdades entre ricos e pobres. Para isso          

B.1.1 ) Deve ser revista a política monetária que não colocou dinheiro na economia real

B1.2.) Os governos, sujeitos a um controlo do défice, podem : animar a economia aumentando a despesa em investimentos públicos ( e melhorando o PIB ) com a contrapartida do aumento de certos impostos; aumentar as taxas de emissão de CO2 ;

aumentar as taxas sobre os carros topo de gama e outros artigos de luxo.

 

B. 2 ) RESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA

De forma a evitar que o pagamento dos juros da dívida soberana dos estados, se torne um factor de estrangulamento para o crescimento da economia, os títulos de emissão de dívida, deveriam estar relacionados com o PIB. Ou seja os juros seriam maiores quando o PIB crescesse mais e menores quando o PIB crescesse menos

 

 

É POIS FUNDAMNTAL ULTRAPASSAR OS EGOISMOS NACIONAIS, É PRECISO CRIAR UMA EUROPA SOLIDÁRIA EM QUE OS EUROPEUS SE SINTAM BEM COM A SUA CULTURA , A SUA MANEIRA DE ESTAR, A SUA VIDA. É PRECISO UMA EUROPA EM QUE OS POVOS TENHAM CONFIANÇA QUE OS SEUS GOVERNANTES OLHEM POR TODOS, PRINCIPALEMENTE PELOS QUE MAIS NECESSITAM. É PRECISO UMA EUROPA QUE SAIBA ADOPTAR AS JUSTAS MEDIDAS PARA ALBERGAR, SEM ABDICAR DA SUA CULTURA DE LIBERDADE, DIGNIDADE E TOLERÂNCIA, OS REFUGIADOS DAS ZONAS DE GUERRA DO MUNDO . É PRECISO UMA EUROPA QUE OLHE PARA OS OUTROS PAÍSES DO MUNDO COM SOLIDARIEDADE E NÃO COM GANÂNCIA.

 

Lisboa, 31 de Dezembro de 2016