quinta-feira, 30 de agosto de 2018
A ÉPOCA DOS COMBOIOS
Quando eu era criança e brincava com os rapazes da minha geração no Parque Mira Torres, certas brincadeiras tinham épocas : havia a época do pião, a época do berlinde, a época do hóquei ( que embora fosse em campo nós imaginávamos que era em patins pois Portugal nesses tempos era campeão do mundo crónico ), a época do lenço. Outras não tinham época como o futebol que podia acontecer em qualquer altura.
Pois para a oposição ao Governo chegou há pouco a época dos comboios. Os comboios andam atrasados, os comboios são suprimidos, os comboios não têm ar condicionado os comboios estão velhos, os comboios são poucos, etc.
Estas deficiências com maior ou menor grau (muitas vezes dramatizadas por interessantes reporters ) são a consequência natural de falta de investimento e de insuficiente manutenção ao longo de décadas. Na empresa privada em que trabalhei, o investimento era pelo menos igual à depreciação do equipamento, para não haver perda de património. Será esta a regra para os equipamentos públicos? Não sei, mas suspeito que não.
A minimização da ferrovia começou com uma resolução dum governo do Sr. Cavaco Silva, que foi do conhecimento geral e que um pequeno livro do Sr. António Alves editado em 2009 sob o título de “O Caminho de Ferro em Portugal” traduz da seguinte forma:.
“Em 1988, o Conselho de Ministros, presidido por Aníbal Cavaco Silva, aprova o “Plano de Modernização dos Caminhos de Ferro 1988-94”. Na sequência deste plano, que apostava exclusivamente nos sistemas ferroviários das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e também nos principais eixos de longo curso, sobretudo no eixo Braga – Faro, cerca de 770 km de via-férrea foram definitivamente encerrados. A norte, esta política de fecho de linhas foi particularmente devastadora”.
Daí em diante as políticas dos vários governos foram sempre muito erráticas, tendo até passado pela ilusão do TGV, em várias versões – ( que seria um ótimo negócio para os fabricantes europeus de equipamento ferroviário) até que o presente Governo assentou num plano para a ferrovia ( um resumo do Ferrovia 2020 pode ser visto em anexo).
Portanto existe um plano em desenvolvimento e as deficiências notadas pelos utentes não poderão ser resolvidas dum dia para outro. E não adianta aos partidos da oposição tentar dramatizar o caso porque este tipo de problemas só se resolve com tempo, trabalho e investimento.
A campanha dos partidos da direita sobre os caminhos de ferro destina-se a tentar demonstrar que o Estado não consegue resolver os problemas e que a privatização seria a solução.
Não acredito que serviços públicos essenciais e onde não há concorrência tragam benefícios para os cidadãos., se forem privatizados. Há logo à partida uma diferença essencial : um serviço público do Estado é para servir os utentes ; um serviço público privatizado, sem concorrência é para servir os investidores e , eventualmente, os utentes. Os transportes públicos pesados tipo CP, Metros, Carris necessitam de grandes investimentos praticamente constantes e, para darem lucro, ou preço dos bilhetes é excessivamente caro ou Estado tem que entrar com grandes compensações
Aliás, considerando as infelizes experiências recentes, que ganharam os portugueses com a privatização da EDP, da REN, da ANA, da Fidelidade ? Nada . Que perderam ? A saída de dividendos para o estrangeiro. E com a privatização dos CTT , melhoraram os serviços prestados ?
Não.
Concluindo : os serviços públicos essenciais que vivem em regime de monopólio devem permanecer na mão dos portugueses, geridos pelo Estado
Lisboa, 30 de Agosto de 2018
ANEXO
quarta-feira, 22 de agosto de 2018
A SAUDAÇÃO DE CENTRNO À GRÉCIA
A propósito da saída da
Grécia do 3º programa de assistência da UE, Mário Centeno na sua qualidade de
presidente do Eurogrupo, dirigiu, através dum vídeo, palavras de circunstância
aos gregos.
Essa palavras que no meu
entender, são apenas de felicitações e de encorajamento para o futuro, sem
deixar de lembrar os sacrifícios feitos, desencadearam uma onda de críticas
irrazoáveis. Desde logo do professor bon
vivant Yanis Varoufakis ( ex ministro das finanças do 1º governo do Sr.
Tsipras ) , seguindo-se os partidos à esquerda do PS, os partidos à direita e
até o deputado PS, Sr. João Galamba.
O povo grego, como aliás
aconteceu à generalidade dos portugueses, mas não aos que mais tinham, sofreu
ferozes imposições restritivas dos representantes dos seus credores e teve de
se desfazer para as mãos de privados, provavelmente estrangeiros, dos empreendimentos e empresas públicas rentáveis..
Não creio que um homem de esquerda como o 1º Ministro Tsipras tivesse algum
prazer nisso ( outros em circunstâncias semelhantes tiveram ) mas entre não
aceder às exigências dos credores ( sair do euro, voltar a um dracma certamente
sem valor internacional , arriscar-se a não ter quem emprestasse dinheiro,
enfrentar uma miséria muito maior) e negociar com a UE e o FMI, o governo grego
escolheu a segunda hipótese, o menor dos males .
Agora , tal como Portugal, e
desde que cumpra o acordado com a EU, o governo grego pode por em prática um
plano de recuperação da economia que favoreça em primeiro lugar os gregos que
mais precisam e em segundo lugar todo o país.
Terá liberdade de escolher
uma política que gradualmente ponha termo à austeridade e que demonstre que
havia alternativas. É importante, como Portugal tem feito, demonstrar que
existem alternativas às exigências da EU e do FMI. Porquê ? Porque as políticas
económicas destas entidades têm tido um cariz neo-liberal, têm obrigado à privatização para mãos estrangeiras das
empresas nacionais rentáveis, têm obrigado a reduzir as defesas dos
trabalhadores perante os empregadores, têm sacrificado sobretudo a população de
mais baixos rendimentos.
Os governos verdadeiramente
sociais-democratas da UE têm obrigação de lutar por uma economia de carácter
social ( uma economia em que as pessoas sejam realmente mais importantes que o
dinheiro ) em todos os órgãos da EU onde tenham representantes. Será um
trabalho contínuo e duro, pois as nações ( como as pessoas ) mais ricas não
querem abrir mão dos seus privilégios, mas para que a UE tenha significado ( e
eu sou um europeísta ) é preciso menos egoísmo e mais solidariedade.
Quanto à lição a tirar dos casos português e grego para mim é
fundamentalmente esta : não pedir dinheiro emprestado aos bancos, a não ser
para situações pontuais bem definidas, não criar dívidas soberanas, não ter
défices orçamentais. Em suma não estar dependente do dinheiro de terceiros.
Finalmente, sobre as
críticas ao texto do Sr. Mário Centeno são todas compreensíveis, excepto uma :
As do Sr. Varoufakis são naturais pois ele
fracassou em relação ao que pretendia fazer ( e em geral não perdoamos aos
outros os nossos fracassos); as dos partidos à esquerda do PS são naturais
porque ou não aceitam sequer a existência da EU ou abominam as respectivas políticas
económicas ; as críticas dos partidos à direita do PS também são naturais pois
tudo o que Governo e o seu Ministro das Finanças fazem está mal feito. Só não
percebi a critica do Sr. João Galamba mas talvez um dia o mesmo senhor explique
melhor.
Para mim o que disse o Sr.
Mário Centeno não contradiz aquilo em que acredito e que resumidamente aqui
deixei escrito. Por isso não tenho reparos a fazer às suas palavras
Lisboa, 22 de Agosto de 2018
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
NO RESCALDO DAS
NOTÍCIAS SOBRE O INCÊNDIO DE MONCHIQUE
Na semana que se seguiu ao fim do incêndio na serra de Monchique,
pulularam nos meios de comunicação social as opiniões, críticas, conselhos
sobre o assunto. Lentes, doutores, drs., professores, técnicos
teóricos e práticos, directores de jornais, jornalistas, economistas,
ignorantes, populares, etc. deram a sua
opinião, em geral criticando a actuação das chefias, próximas e distantes até
ao mais alto nível, dos combatentes do fogo
e também obviamente o governo. Houve alguns dos críticos que vestiram a
pele de moralistas, atacando as palavras do 1º Ministro por este manifestar
satisfação por num incêndio daquela dimensão não ter havido mortos. Como se
pode manifestar satisfação, perguntam os críticos, se embora não tendo havido
mortos, arderam 28,500 há, ficaram destruídas 50 casas, sendo 12 de 1ª
habitação e houve 41 feridos ( 22 bombeiros ) ? Responderei eu, duma forma
simplista: para quem preza mais a vida humana que os bens materiais, o combate
ao incêndio correu bem ; para quem preza
mais os bens materiais que a vida humana, o combate ao incêndio correu mal
Houve também queixas de que os militares da GNR encarregados de retirar pessoas dos locais de perigo foram algumas vezes
bruscos. As pessoas queriam ficar a defender as suas casas e não as deixaram!
Com as emoções à flor da pele por causa dos acontecimentos é natural que os
proprietários medissem mal o perigo que iriam correr e pensassem que
conseguiriam dominar as circunstâncias . Porem os militares tinham as suas
ordens e não poderiam deixar ficar ninguém para trás. Na aflição do momento,
talvez se tenham esquecido de “pedir por favor”, mas acho que cumpriram as suas
obrigações e que as populações devem estar agradecidas
Não tenho conhecimentos para avaliar se dos pontos de vista táctico e
estratégico o ataque ao fogo foi bem ao mal conduzido. Pelo leitura dos jornais
não faltaram meios ( segundo alguns até houve meios a mais ). Também não ouvi
referências que as recomendações da Comissão Técnica Independente não tivessem
sido seguidas. Nem sequer, pasmem, li comentários sobre dificuldades nas
comunicações . Será que o SIRESP funcionou bem ? Para não ser notícia,
certamente que correspondeu às necessidades !
Para ter resposta a estas questões vou esperar por novo relatório da CTI sobre o combate ao grande incêndio de Monchique.
Mais uma reflexão : será que os criticaram o modo como foi conduzido o
combate teriam feito melhor se estivessem no comando ? É praticamente
impossível saber-se , mas que quase todos os portugueses são “treinadores de
bancada” não tenho dúvida.
Lisboa, 20 de Agosto de 2018
domingo, 19 de agosto de 2018
PESQUISA DE PETRÓLEO AO LARGO DE ALJEZUR
Em 1954, o
professor de Química Geral do IST, Prof. Eng. Francisco de Magalhães
Ilharco, já falecido, ensinava que era preciso procurar fontes alternativas de
energia ( eólica, hídrica, das ondas,
das marés, solar ) pois o petróleo bruto não duraria sempre. Hoje sabe-se que a
abundância de petróleo é muito maior do que se supunha anteriormente, mas que
outros motivos ligados às condições de vida no nosso planeta tornam necessário
utilizar cada vez mais as energias alternativas em detrimento do outrora chamado
“ouro negro” . Porem, no estado actual da tecnologia, o petróleo é
indispensável como matéria prima para a indústria petroquímica, responsável
pela existência de miríades de objectos e instrumentos de utilização corrente.
Vem esta introdução a propósito da proibição feita por
um tribunal de Loulé, no seguimento duma providência cautelar interposta por activistas ambientais, de ser iniciada a
pesquisa de petróleo no mar, ao largo de Aljezur. Um dos argumentos dos
activistas é o de que não foi feito um estudo de impacto ambiental. O Governo
considera importante saber se existe petróleo em condições de exploração para
termos esse trunfo na mão em caso de necessidade e que será feito o estudo de
impacto ambiental se houver petróleo e antes dum eventual início de exploração.
Eu penso que a posição do Governo é sensata porque :
i) Apesar dos avanços no campo das energias renováveis
e da tecnologia, o petróleo vais ser necessário durante muitos anos
ii) Com a confusão que reina no mundo, não será
difícil imaginar circunstâncias em que a escassez de fornecimento ao nosso país
aconteça ou que o preço atinja valores incomportáveis. Tendo fontes locais de
abastecimento, aqueles perigos são minimizados.
iii) Com o desenvolvimento das tecnologias de
prospecção e os cuidados ambientais obrigatórios, os perigos de acidente são
mínimos
iv) Existe um contrato assinado pelo anterior governo
com o consórcio Galp+ENI para a dita exploração, o qual para ser resolvido
traria certamente custos ao erário público.
Há diferença entre saber que existe petróleo e
explora-lo. Avançar com uma eventual exploração, na minha opinião, só em caso
de emergência ou se um estudo ambiental rigoroso mostrar que não existe perigo para
o ambiente, nem sequer perigo para o turismo na costa vicentina ou algarvia.
No que
respeita a metas ambientais, com ou sem petróleo, Portugal tem obrigação de
cumprir o que foi acordado em Paris e com os parceiros da União Europeia
Como é sabido, o Reino Unido e a Noruega têm
prospecção e exploração de petróleo ao largo das suas costas e não me consta
que sejam países para os quais a defesa do ambiente não interessa. Isto para concluir
que existem hoje em dia tecnologias bastante seguras.
Certamente os nossos ambientalistas, apesar das suas
preocupações vão continuar a andar em carros movidos a gasolina ou gasóleo, a
viajar de avião a jacto durante mais alguns anos…
Lisboa, 18 de Agosto de 2018
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