quarta-feira, 8 de novembro de 2017

NO RESCALDO DOS GRANDES INCÊNDIOS DE


NO RESCALDO DOS GRANDES INCÊNDIOS DE

JUNHO E OUTUBRO DE 2017

 Nos grandes incêndios que começaram a 17 de Junho e a 15 de Outubro morreram mais de 100 pessoas e houve muitos milhões de euros de prejuízos materiais.
Tragédias como nunca tinham acontecido em Portugal e foram consequência da mudança de grande parte da população do interior para as cidades e vilas do litoral, da mudança no paradigma de utilização das matas pelos pequenos proprietários, de falta de políticas eficazes no ordenamento do território e na selecção das espécies de árvores para as nossas florestas, de deficiências na escolha dos meios de prevenção e de combate  aos fogos, de mão criminosa ao serviço de interesses inconfessáveis, e, pontualmente este ano, de condições climatéricas anormais e de incompetências na direcção do combate às chamas.
Alguns dirão que foi pouca sorte do presente governo socialista esta situação ter ocorrido num dos anos do seu mandato e não em anos anteriores, no exercício do governo PSD+CDS durante o qual se verificou uma série de opções erradas que aumentaram a probabilidade de acontecerem tragédias ( desinvestimentos, liberalização da cultura do eucalipto, etc. ).
Pessoalmente, penso que para os portugueses é mais favorável ser o presente governo, com o apoio de Sr. Presidente da República ( PR) a minorar o mal feito e a preparar o futuro. Tenho a convicção que, assim, os interesse dos que mais precisam serão acutelados.

Em resultado do que aconteceu, o Sr. Primeiro Ministro (PM) teve de enfrentar acusações, críticas, juízos de valor dos mais variados quadrantes políticos, sociais, jornalísticos muitos dos quais a destempo e sem razão de ser.
Relembro 4 situações : a moção de censura proposta pelo CDS; a entrevista à TVI conduzida pelo Sr. Pedro Pinto ; a sua presença na sessão de encerramento do congresso dos Bombeiros; e um improviso do PR.
Em todas elas, o PM se comportou exemplarmente com grande sentido de governante, não entrando no jogo do passa culpas ou de quem é que tem a culpa, mas informando ou repisando, o que estava já feito e o que se irá fazer em relação às consequências dos fogos.

Na moção de censura é natural que as oposições de direita procurassem tirar o maior partido possível das catástrofes, como se nos anos anteriores não tivessem tido a sua quota parte de responsabilidade. O jogo partidário em Democracia tem disto.

Na entrevista feita pelo Sr. Pedro Pinto num cenário de Quartel de Bombeiros, o entrevistador não se limitou a fazer perguntas e a eventualmente questionar as respostas. Antes de cada pergunta, fazia um pequeno introito, certamente bem estudado, introduzindo juízos de valor sobre a actuação do governo e dos organismos de combate aos incêndios como se fosse um especialista na matéria ou um juiz de direito. Presunção e água benta….

Na sessão de encerramento do congresso da Liga de Bombeiros, o respectivo presidente, o Sr. Mota Soares, diligente militante do PSD, muito inflamado e muito vermelho ( se não estivesse a ver a cena em diferido, teria tido receio de que o Sr. fosse ter uma apoplexia ) apontando um dedo ao PM gritou-lhe que senão dessem ouvidos à Liga dos Bombeiros teriam a “guerra” nas ruas ( soldados da paz a fazer a “guerra”! ) . O PM não perdeu a calma e disse mais uma vez o que iria fazer e que a colaboração de todos era necessária.

Quanto ao acima mencionado improviso do PR, que muita gente interpretou como uma crítica à actuação do governo com a indicação do que era necessário fazer naquele momento e os meios de comunicação social consideraram que era um choque frontal com o governo, veio a saber-se que as medidas sugeridas pelo PR tinham-lhe sido previamente comunicadas pelo PM como a linha de acção a pôr em prática! Em comentários posteriores o PM não ligou, não se mostrou “chocado”  ( chocar chocam as galinhas como diziam os antigos) e reafirmou a sua lealdade institucional ao PR.

Quanto à rapidez com que as pessoas têm de ser indemnizadas, que os interessados directamnte ( com razão ) e os interessados pela via da política, reclamam, o Estado tem o dever de o fazer, mas sem entrar em procedimentos ilegais. Ninguém está certamente à espera que o PM vá aos locais afectados com o livre de cheques na mão e pergunte às pessoas : qual foi o seu prejuízo, quanto é que precisa ?                                                                                                                                                     Aliás como dizia o meu saudoso professor de Matemática no Liceu Passos Manuel : “Depressa e bem só coices !”

Sobre as alterações à política florestal, à  prevenção, ao combate aos fogos para o que o PR reclama um grande consenso nacional, duvido que isso venha a acontecer. Há muitos interesses em jogo e portanto as recomendações da Comissão Técnica Independente não serão postas em prática sem oposição de alguns daqueles interesses. Alem da habitual tendência dos portugueses de pensarem e dizerem “ eu é que sei”.

Tenhamos esperança que o Governo, ouvindo os verdadeiros especialistas nas várias áreas e partindo do princípio de que as pessoas estão em primeiro lugar, saiba pôr em prática as políticas necessárias para proteger o futuro dos portugueses que vivem no interior.

 
Lisboa, 8 de Novembro de 2017

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