As grandes e
também as pequenas tragédias humanas que acontecem no nosso País devem merecer
a solidariedade, o carinho, o consolo de todos os Portugueses. É isto que
constitui o cerne daquilo que nos une, que faz com que possamos dizer com
orgulho que somos uma nação multicentenária onde os valores humanos contam.
Por isso fez
muito bem o Sr, Presidente da República´, e também a generalidade da classe
política, ao andar de terra em terra a mostrar o seu afecto aos que sofreram
com os incêndios, e aos familiares dos que pereceram . E também tem feito muito
bem o Governo PS ao preparar o que é preciso fazer para acudir materialmente às
vítimas de forma a proporcionar-lhes um futuro igual ao passado, ou melhor
ainda, e a evitar tragédias semelhantes no futuro
( É
necessário dar resposta às alterações que a sociedade rural portuguesa sofreu
nas últimas décadas )
Porem, há
poucos anos atrás, mais precisamente durante os anos da troika, com um governo
PSD+CDS, também uma desgraça se abateu sobre uma grande parte da população
portuguesa, resultante das políticas então seguidas : muitas pessoas,
pensionistas e activos, viram os seus magros rendimentos reduzidos, muitas
pessoas perderam o seu emprego, muitas pessoas perderam, também, as suas casas.
E não vi nessa altura os políticos da direita correrem a consolar os aflitos, a
pedir a intervenção do governo, a pedir a presença de psicólogos para ajudar a
ultrapassar a crise. Mas aí não houve vítimas mortais, dirão. Não? Não sei se
pessoas houve que morreram de desgosto pela situação a que tinham chegado ou
por não terem dinheiro suficiente para todos os medicamentos que precisavam.
Na
solidariedade nacional não pode haver dois pesos e duas medidas.
Há cerca de
duas semanas tive ocasião de passar brevemente pela cidade alemã de Munique. Na
rápida volta que dei pelo centro histórico visitei a belíssima igreja Asam,
dedicada a S. João Nepomuceno e construída no século XVIII. Entre as inúmeras
obras d’arte do seu interior ( na verdade todo o seu interior é uma obra d’arte
) um grupo escultórico mostra-nos Cenodoxo a ser mandado para o
inferno.
Quem era
Cenodoxo ? Um personagem real ou de ficção ?
Cenodoxo é o
personagem central duma peça de teatro escrita pelo Jesuíta Jakob Bidermann e
representada pela primeira vez em 1602 no Seminário de Augsburgo.
Cenodoxo era
um católico cujas obras piedosas e dádivas generosas causavam a admiração e o
respeito dos seus contemporâneos. E no entanto, quando morreu, ele próprio duma
forma sobrenatural disse publicamente que ia para o inferno ! Espanto de toda a
gente ! Mas a explicação de tal castigo é simples : Deus ( o Deus das religiões
monoteístas que vê tudo o que se passa nas almas das pessoas, crentes e não
crentes ) sabia que o motivo das suas obras era a vanglória, o desejo de se
elevar aos seus próprios olhos e aos olhos dos outros e não propriamente o amor
do próximo ! Por isso o castigo eterno
Haverá
Cenodoxos em Portugal, na classe política portuguesa ?
Não sei, mas
Deus sabe !...
Lisboa, 27
de Outubro de 2017
P.S. Na
internet podem ser encontrados mais pormenores sobre Cenodoxo e a igreja de
Asam
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