QUEM COM OURO MATA …
Gosto de ler os livros policiais de Steven Saylor.
Abrangem o tempo de vida do detective, dito « O Descobridor », são passados
no mundo romano, na época anterior à era de Cristo. A história dum deles,
« A Ira das Furias », tem lugar em 88 AC, no tempo em que Mitrídates Rei
do Ponto ( o Ponto era um território ao sul do Mar Negro no que é hoje a
Turquia e o rei é um personagem histórico que serviu de tema a uma ópera de
Mozart e a uma peça de Racine ) atacava o domínio romano na Ásia Menor.
Entre as inúmeras peripécias, é narrado um castigo aplicado pelo Rei do
Ponto a um general romano vencido e capturado e que foi acusado de corrupção,
assassínios e ganância. O castigo, uma
pena capital, foi aplicado da seguinte
maneira : depois de enxovalhado das mais humilhantes formas, o condenado foi
atado de pés e mãos, meio deitado, sobre uma grade ; o carrasco enfiou-lhe um
grande funil na boca e através dele despejou-lhe no interior do corpo uma massa
de ouro líquido, obtida por fusão dum
monte de moedas de ouro! A descrição diz que que o desgraçado se
contorceu todo em agonia antes de falecer, enquanto o público assistente
uivava, gritava gania selvaticamente de satisfação !
Seria este castigo - que francamente não sei se foi
autêntico se fruto da imaginação do autor do livro, embora não me custe aceitar
que possa ter acontecido - indigno da
humanidade? Pelos padrões actuais de
fazer justiça, sim, ainda que por esse mundo fora se executem ou torturem
prisioneiros das formas mais horrorosas – embora não com moedas de ouro
fundidas.
E se este castigo ainda fosse aplicável nos dias de
hoje ( usando a lei de talião :
quem com ferro, ou ouro, mata, pelo ferro, ou ouro, deve morrer ), seria um
dissuasor absoluto contra banqueiros desonestos e políticos corruptos ? Acho
que não, pois a ganância é, para muitos, um motivador irresistível. Eles pensam
sempre que nunca serão descobertos pois acham que são mais espertos que os outros.
Tal como a pena de cortar as mãos aos ladrões não impediu os roubos e a
pena de morte não impediu, ou impede, os
assassínios
Lisboa, 8 de Maio de 2017
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