sexta-feira, 5 de maio de 2017

EM LOUVOR DA ASMECL


EM LOUVOR DA ASMECL 

No dia 21 de Abril de 2017, durante uma sessão solene comemorativa do 145º  aniversário da ASMECL- Associação de Socorros Mútuos de Empregados no Comércio de Lisboa, fui homenageado pelos meus 75 de associado. Comigo foram homenageados 37 sócios com 50 anos de antiguidade e 7 colaboradores com longos anos de actividade ao serviço da instituição.

É verdade, fez 75 anos que o meu Pai me inscreveu como Sócio Familiar. Em boa hora o fez, pois de todas as vezes que recorri aos serviços clínicos da ASMECL fui sempre muito bem tratado e com bons resultados.

Algumas recordações

 1. Consulta de pediatria na infância .                                                                                               Tenho a vaga lembrança de o médico ter sido o Dr. Marques Pinto e a consulta ter tido lugar no corpo principal do Palácio de S. Cristóvão, mas certezas não tenho

2. Tratamento dum dente.

Já no tempo do liceu, o Passos Manuel ficava e fica relativamente perto, lembro-me de ter tido necessidade de tratar um dente que estava furado e me doía. O médico achou que valia a pena obturá-lo e preparou-o (desvitalização do nervo penso eu agora ) ao longo de várias sessões de trabalho. No dia marcado para o finalmente, lá me sentei na cadeira ( o que me causava sempre um certo receio ), o médico preparou o material para a obturação, ou seja, fundiu um pouco de chumbo num pequeno cadinho e depois despejou a massa fundida no buraco a tapar. Era o que na altura se chamava « chumbar um dente » ! Não me doeu nada e o chumbo permaneceu no seu lugar penso que duas décadas. Depois caíu e o dentista a que recorri fez a obturação com um material moderno.

3. Ortopedia : reparação do fémur esquerdo.

 Num dos primeiros meses de 1976 fui atropelado, ao atravessar uma rua sem olhar para os lados, em Xabregas. Com o embate, fui projectado para o ar, bati com a cabeça no para-brisas do carro atropelante e caí no chão. Antes de desmaiar ainda tive tempo para dizer o número de telefone de minha casa e pedir para darem a notícia com cuidado à minha Mulher. Acordei no hospital de S. José, já limpo do sangue que tinha brotado da cabeça e com a perna esquerda imobilizada. Tenho a vaga lembrança de que a Miló já estava à minha beira, embora permanecesse numa enfermaria. Não me lembro quanto tempo passou até que a Miló me disse que me ia levar para a Associação. Não me opus, nem certamente estava em condições de o fazer, e ela depois explicou-me que o médico de S. José lhe tinha dito que eu precisava de ser operado para unir as duas partes do fémur partido, que seria necessário um elemento metálico ( um « ferrinho » ) para fazer a ligação e que o hospital não tinha de momento nenhum disponível ! Que teria de esperar que um “ferrinho” fosse retirado dum paciente que já não precisasse dele para me poder ser aplicado. Que não havia previsão de tempo para o efeito e que, se ela tivesse alguma clínica para onde me levar, seria o mais acertado. E assim fui para a Associação.

 Uma vez aí, fui entregue aos cuidados do Dr. Carlos Ribeiro – um grande médico ortopedista e operador a quem presto mais uma vez a minha homenagem, e que morreu prematuramente num desastre de automóvel – que me operou numa terça-feira. Depois da operação, ele disse à Miló  que eu ia ter dores fortes durante 24 h e que receitava umas pastilhas para aliviar. De facto, passado o efeito da anestesia tive dores tremendas que, como ele previu, duraram quase exactamente 24h. Com a ajuda do « ferrinho » e dum « ferro », um perfil metálico que o médico colocou paralelamente ao fémur para dar resistência, ao fim de algumas semanas pude voltar ao trabalho. O “ferro” foi retirado passado um ano por meio duma intervenção simples. O “ferrinho” ainda cá está

O resultado da operação foi óptimo pois passado pouco tempo pude recomeçar a fazer desporto ( coisa que ainda faço ) e ao longo dos anos nunca me doeu nada, nem senti as mudanças de temperatura ou humidade

E sabem quanto me custaram os serviços prestados pela ASMECL ? Apenas o custo de ter estado num quarto individual . Nada mais !  E estes benefícios eram dados por uma instituição mutualista que vivia apenas das quotizações e donativos dos sócios. Muito melhor que o que qualquer companhia de seguros oferecia aos seus clientes ! Infelizmente, a ASMECL hoje já não funciona assim : na vida nem tudo tem evoluído para melhor.

Na minha opinião, o mutualismo e o cooperativismo são das mais notáveis maneiras de nos ajudarmos uns aos outros e de resolvermos os nossos problemas

Outras ( boas ) recordações

Foi na maternidade da Associação que nasceram os meus 2 filhos, ambos por cesariana, e duas das minhas netas, por parto normal

Uma reflexão que faço ainda sobre o que se passou e foi relatado em 3)do  )                                     Que fazia eu em Xabregas, num dia de semana, quando era suposto estar a trabalhar?  Resposta : ia ao cais levantar o meu carro e alguns pertences que tinham regressado do Lobito ( Angola ), via Inglaterra !

De facto, quando, em Setembro de 1975, a direcção da Empal onde eu era o gerente fabril e co-responsável, decidiu suspender temporariamente o funcionamento da fábrica, até passarem os tumultos pré-independência de Angola ( que iria ter lugar em Novembro ) e proceder ao repatriamento de pessoas e bens para Portugal, o meu carro pessoal, não o de serviço, foi embarcado num cargueiro com destino a um porto inglês. Aí, os serviços da Unilever ( a multi-nacional dona em conjunto com a firma Jerónimo Martins, Lda  da Fima- Empal ) se encarregariam de o remeter para Portugal. Esta operação demorou vários meses e só no princípio de 1976 o carro chegou a Lisboa.  E eu fui avisado para o ir buscar                                                                                                       Digamos que o meu atropelamento foi o ponto final das minhas estadias em Angola, de 1963 a 1965 durante a guerra colonial e em 1975, na minha « comissão civil » ao serviço da Fima-Empal. Em ambos os casos, corri perigos, ouvi tiros e não me sucedeu nada ! Nem sequer estive doente .             E foi em Xabregas que o destinou me pregou uma partida, quase me deixando morrer ingloriamente no asfalto duma rua de Xabregas

F . Fonseca Santos

Lisboa, 5 de Maio de 2017

 

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