É difícil conseguir a paz na faixa de Gaza quando os
interlocutores são estructuralmente fanáticos: do lado palestiniano, o Hamas e
do lado israelita o governo Netaniaú.
Antes de prosseguir, recordo a história da faixa de
Gaza a partir do final do século XIX :
- · Depois de 1840, no seguimento duma batalha, o domínio sobre Gaza passou do Egipto para o Império Otomano
- · -No decurso da 1ª Grande Guerra, os aliados europeus venceram e expulsaram os Otomanos de Gaza
- · No final da 1ª GG, a Liga das Nações entregou o controlo de toda a Palestina ao Reino Unido
- · Em 1947, uma resolução das Nações Unidas dividiu o território da Palestina em 2 espaços, um para a nação árabe e outro para a nação dos judeus e determinou a internacionalização da cidade de Jerusalém
- · Em consequência da declaração de independência de Israel, em 1948, e da guerra que se seguiu entre árabes e judeus, o Egipto tomou conta da Administração do território de Gaza.
- · Em 1964, foi fundada oficialmente a Organização para a Libertação da Palestina ( OLP ) sob a chefia de Yasser Arafat
- · Em 1967 teve lugar a Guerra dos 6 Dias entre árabes e judeus e, após a derrota dos exércitos árabes, Israel tomou conta do território de Gaza
- · Em 1994 em resultado dos acordos de Oslo, assinados por Yasser Arafat, Ytzhak Rabin e Shimon Peres , a faixa de Gaza foi entregue à Autoridade Nacional Palestiniana, presidida por Arafat.
- · Em 2006, a organização radical Hamas ganhou as eleições à Fatah ( o partido fundado por Arafat entretanto falecido )
- · Em 2007, o Hamas afastou as forças da Fatah e tomou o controlo efectivo do território
Durante todo este período
desentendimentos mais ou menos violentos entre árabes e judeus sempre
ocorreram, principalmente durante a administração dos israelitas. Depois da
tomada do poder pelo Hamas a luta contra Israel tornou-se mais violenta, com
bombardeamentos mútuos e invasões por parte do exército israelita.
Isto é consequência natural de tanto
o governo de Netaniaú como o Hamas , lá no fundo, penso eu, não aceitarem a
existência de 2 estados na Palestina embora, para o mundo ouvir, possam dizer
que sim, que aceitam.
A assinatura dos acordos de Oslo
abriu uma janela de esperança que o
assassínio de Ytzhak Rabin em 1995 por um fanático judeu e a morte de Arafat em
2004 fecharam.
As condições de vida para a
população do território de Gaza são terríveis, faltando quase tudo. Até a
electricidade, segundo dizem os jornais, só está disponível 2 horas por dia. As
possibilidades de educação e de conseguir um emprego são muito reduzidas. Por
isso não admira que jovens sem esperança sejam facilmente arregimentados pelos
dirigentes do Hamas para arriscarem a vida em protestos e confrontos com as
forças israelitas.
Mas a culpa das deploráveis
condições dos habitantes de Gaza não é só do governo israelita por fechar a
fronteira ou pôr dificuldades ao trânsito, alegadamente por motivos de
segurança: é também daqueles que teoricamente teriam obrigação de os ajudar : a
Autoridade Palestiniana, o vizinho Egipto ( que também colabora no bloqueio ),
os petrolíferos e riquíssimos Estados Árabes do Golfo Pérsico. Estes últimos em
particular o que fazem com o seu ( deles ) dinheiro ?
Compram propriedades e clubes de
futebol no Ocidente, armas aos Estados Unidos, organizam grandes eventos
desportivos, etc.
Que sobra disto para os
palestinianos de Gaza ? Muito pouco, acho eu. Não conheço bem as estatísticas: li
apenas que do orçamento da Agência das Nações Unidas para Assistência aos
Refugiados da Palestina, no valor de 465 milhões de dólares para 2018, os
Estados Árabes do Golfo Pérsico em conjunto com o Canadá e a Noruega contribuem
com 200 milhões. Qual a contribuição dos Estados Árabes, apenas não consegui
saber.
Para comparação, lembro apenas que o
futebolista brasileiro Neymar custou ao clube de futebol Paris Saint Germain a
quantia de 222 milhões de euros disponibilizados pelo proprietário do Clube o Qatar
Sports Investments.
Lisboa, 4 de Junho de 2018
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