quinta-feira, 14 de setembro de 2017

ORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2018 E IMPOSTOS


ORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2018 E IMPOSTOS

 Estamos novamente na altura do Governo preparar o Orçamento de Estado e de o apresentar ao Parlamento.

Como é habitual, os partidos que pensam nos cidadãos em primeiro lugar esforçam-se por conseguir alívios nos escalões mais baixos do IRS, enquanto que os partidos que colocam as empresas à frente dos cidadãos lutam por uma redução no IRC, - com a argumentação errada e hipócrita de que, assim, quem beneficia na realidade são as pessoas, pois haverá criação de mais empresas e de mais emprego.

A argumentação está errada porque :

- O que determina a vontade de investimento das empresas é a existência de mercado. Senão houver mercado, nem com o IRC igual a 0, as empresas investem

- Quanto maior for o rendimento disponível das pessoas, maior é a possibilidade de o mercado crescer.

Porem vale a pena discutir um pouco mais um dos argumentos invocados pelos defensores nacionais de IRC mais baixo: um IRC alto afasta investidores para países da EU onde aquele é reduzido. Pessoalmente não estou convencido de que isto seja uma razão e gostaria de saber se já aconteceu que uma firma F tenha desistido de investir em Portugal simplesmente porque cá o IRC é X e noutro país da EU é Y, menor que X .

Na realidade, parece-me impróprio e lesivo das regras de fair-play  na concorrência, que existam diferenças entres os IRCs dos diferentes membros da EU. Existe uma união, ou não?

Os membros da UE deveriam acordar num IRC comum mínimo a aplicar por cada um deles. Outrossim, o IRC cobrado a cada empresa deveria ser feito à taxa do país onde os lucros foram gerados e não à taxa do país onde está localizada a sede social Este critério evitaria o deslocamento das sedes sociais de empresas portuguesas para a Holanda, por exemplo.

A fixação dum IRC mínimo comum a todos, evitaria também a tentação da “corrida para o abismo” ou seja : o país A baixou o IRC para supostamente tornar o território mais atractivo ao investimento; então o país B baixa ainda mais e o país C ainda mais que o anterior, e assim sucessivamente até que no final o IRC chega a 0 para todos !

Outra questão que se pode pôr é a da não progressividade do IRC. Se os escalões do IRS são progressivos, porque não se hão de criar escalões progressivos para taxar os lucros das empresas ?.

Seria moralizador e representaria mais um contributo para melhorar a redistribuição  da riqueza e para  diminuir as desigualdades.

É evidente que Portugal não poderia introduzir sozinho tal medida, aqui também seria necessário uma generalização na UE   Não creio que firmas como a Coca-Cola, e outras multinacionais. abandonassem o chorudo mercado europeu devido a um aumento generalizado do IRC ! .

Outro tipo de negócio que continua a escapar aos impostos é o das transacções financeiras. Não tenho lido nada de novo sobre o assunto. A última notícia que vi data de 8/12/2015 e dizia que Portugal, França, Alemanha, Bélgica, Áustria, Eslovénia, Grécia, Eslováquia, Itália e Espanha tinham tentado chegar a um acordo, mas que a discussão tinha sido adiada para o verão de. 2016. Como disse, não sei se houve progressos ou se o tema foi abandonado.

Se o tema foi posto de parte é pelo menos francamente imoral, pois se até a compra dum simples pão paga 6% de IVA !

 Para terminar, resta-me dizer o que penso sobre o IRC e o IRS para 2018

i) Manter o IRC em 21%

ii) No IRS, concordar com o desdobramento do 2º escalão de forma a beneficiar os rendimentos mais baixos

iii) Ainda no IRS, criar novos escalões para os rendimentos mais elevados ( ver texto de FFS de 10 JUN 2017 )

 Valores em €
 
Rendimento anual
Taxa
Taxa  média       
        (# )                                           
 
+80640 até 112000
48%
40,70%
     5760 até 8000
+112000 até 140000
50%
42,50 %
      8000 até 10000
+ 140000
55%
 
      +10000

 (#) Rendimento mensal, considerando 14 meses de recebimentos

 

Lisboa, 14 de Setembro de 2017

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