Num artigo publicado no
"Expresso" de 9 de Setembro de 2017, o Sr. Miguel Sousa Tavares
pergunta :
- António Costa precisa mesmo do PCP ?
Pensando que, à boa maneira das
sabatinas jesuíticas, a uma pergunta se responde com outra pergunta ( ou duas
), à pergunta de MST, pode retorquir-se :
- E os Srs. Churchill e Roosevelt
precisavam do Sr. Estaline ?
- E o Sr. Estaline precisava dos Srs.
Churchill e Roosevelt ?
Como é
sabido, durante a 2ª guerra mundial, o Reino Unido, os EUA e a URSS viram-se na
necessidade de se aliarem para poder derrotar a Alemanha Nazi. Foi uma aliança
ditada pelo instinto de sobrevivência e não por comunhão de ideias e de valores
políticos e económicos. Contra um mal maior, um mal menor. Pouco tempo depois
da derrota da Alemanha, as divergências entre as democracias ocidentais e a
URSS tornaram-se inultrapassáveis e assistiu-se à criação de 2 blocos
fortemente armados, o Ocidental e o Oriental. Dado o potencial bélico em
presença, os dois blocos, cada um com o sua organização militar, nunca chegaram
a vias de facto dum forma quente ,
não passando duma feroz luta ideológica, a
guerra fria com cada um deles refreando-se de entrar directamente na esfera
de influência do outro.
Podemos
dizer que a aliança entre países de regimes diferentes, dois tipicamente
capitalistas e um comunista, teve a grande vantagem de abreviar a derrota da
Alemanha e assim poupar milhares ou milhões de vidas.
Duma forma
semelhante, a aliança entre o Partido Socialista e os partidos à sua esquerda,
o Partido Comunista, o Bloco de Esquerda e o Partido Ecologista os Verdes, foi
necessária para afastar o bloco das direitas ( PSD+CDS) do governo, pondo fim a
um programa político, baseado na ideologia própria e na intervenção da Troika (
Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia ) - intervenção esta que foi resultado da
dificuldade do Governo Português conseguir empréstimos de dinheiro a juros
aceitáveis . Esse programa teve duas vertentes más para Portugal : a
privatização de empresas públicas lucrativas e a austeridade. A austeridade não
atingiu todos os portugueses de igual modo, mas sobretudo as classes menos
favorecidas, a classe média baixa , os reformados, os desempregados, pois
baseou-se em cortes nos vencimentos dos funcionários do Estado, das pensões,
num colossal aumento de impostos ( nas palavras do Ministro das Finanças que o
anunciou ),, na redução dos benefícios sociais, na deterioração dos serviços
públicos.
O PCP, o BE
e o PEV são necessários para manter a direita afastada do governo e permitir a
recuperação da economia, a recuperação dos rendimentos das famílias e a diminuição
das desigualdades.
NOTA: o PCP tem uma ideia sobre a vida
económica e a propriedade dos meios de produção muito diferente da maioria das
pessoas, mas a sua luta pela melhoria dos salários e das condições de vida dos
trabalhadores é muito útil como contra-ponto às
políticas económicas neo-liberais ( muito diferentes das políticas
sociais-democráticas que foram o apanágio das democracias europeias no
pós-guerra ) que pretendem a liberalização do mercado do trabalho, a facilidade
dos despedi-
mentos, o
fim das contratações colectivas. Que pretendem, em suma, desproteger o
interlocutor mais fraco no diálogo patrão-trabalhador,
ou seja, o trabalhador.
É preciso
não esquecer que a produtividade não se consegue com salários baixos e mais
horas de trabalho, mas com boa tecnologia, boa organização do trabalho, boa
gestão de recursos e motivação do pessoal
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